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Risadas no sofá pontuaram 47 anos na TV

Ela conduziu entrevistas bem-humoradas desde a estreia do programa "Hebe Camargo", na Record, em 1966

Cantora de rádio desde a adolescência, apresentadora chegou à televisão logo após 1ª transmissão no país

Rodrigo Paiva - 20.jan.2011/UOL
Hebe durante entrevista nos estúdios da RedeTV!
Hebe durante entrevista nos estúdios da RedeTV!

DE SÃO PAULO

Quando os primeiros aparelhos de televisão chegaram ao Brasil, Hebe Camargo esperava por eles no porto de Santos, ao lado do magnata brasileiro da mídia Assis Chateaubriand. O ano era 1950, ela tinha 21 anos, cantora de rádio em ascensão.

Foi convidada para cantar na transmissão inaugural, mas faltou ao evento para sair com um namorado, sendo substituída por Lolita Rodrigues. Apesar do incidente, sua trajetória pessoal se entrelaçaria para sempre com a história da TV no Brasil.

Como os outros pioneiros, ela veio do rádio. Nascida em Taubaté (SP), em 8 de março de 1929, aos 15 anos era uma moça morena que imitava Carmen Miranda (1909-1945).

Vencedora de programas de calouros, formou grupos vocais com a irmã Stella e duas primas. Sua simpatia chamou a atenção de diretores de rádios, que lhe estenderam convites para trabalhar com os locutores masculinos.

Formou dupla com Mazzaropi na rádio Tupi e foi contratada pela rádio Nacional, na qual assumiu o programa "Encontro Musical".

Seu estilo ao microfone, conversando com os convidados como se estivesse em sua casa, imprimiu uma informalidade às transmissões nem sequer cogitada por outros apresentadores da época.

Em 1950 gravou seu primeiro LP, pela gravadora Odeon. Iniciou ali a rotina comum das cantoras de rádio naquela década, registrando quase mensalmente novas canções.

Foi do samba à bossa nova, passando por boleros, guarânias, mambos e até um flerte com o baião.

Conhecida em todo o país, a cantora de voz educada só seria ofuscada pela carreira diante das câmeras.

A mais importante de suas primeiras aparições na TV, ainda em 1950, foi no programa "Rancho Alegre", cantando ao lado de Ivon Cury.

PROGRAMA FEMININO

Em 1955, na estreia como apresentadora, à frente do programa "O Mundo É das Mulheres", na antiga rede Paulista, já tinha "aderido à loirice", como declarou.

Primeira atração da TV destinada exclusivamente às mulheres, teve sucesso imediato. Hebe passou a apresentá-la cinco dias por semana, um recorde à época.

Seu jeito espontâneo, carregado de tom fofoqueiro e marcado pela gargalhada característica (às vezes, rindo de si mesma), fez dela referência entre apresentadoras.

Durante os anos 1960 e o início da década seguinte, trabalhando na Record, Hebe começou a ser tratada como uma rainha da televisão.

O programa "Hebe Camargo" estreou em 1966 e teve como primeiro convidado o cantor Roberto Carlos, então no auge da jovem guarda. Em 1973, o programa seria escolhido para inaugurar as transmissões em cores no canal.

Cantores, atores -até astros de Hollywood-, atletas e políticos eram recebidos em seu sofá, companheiro de cena por quase cinco décadas. A todos, oferecia o mesmo elogio: "Gracinha!".

Entre os mais famosos, a atriz Joan Crawford (1905-1977), que fez questão de enviar uma mensagem elogiando a condução da entrevista.

Hebe participou de muitos especiais na Record, apresentando programas musicais e de fim de ano, além de se arriscar como atriz em humorísticos da emissora.

Conhecida pelo riso solto, conquistou em teleteatros com Ronald Golias lugar permanente na memória dos fãs.

Ele era o humorista número um do país, celebrado pelo papel do espertalhão Bronco na série "Família Trapo".Golias provocava Hebe o tempo todo em cena, e os visíveis esforços dela para não rir -sempre infrutíferos- eram muitas vezes mais engraçados do que o próprio roteiro.

A atuação dos dois no especial cômico "Romeu e Julieta", que contou com uma amiga também de gargalhada fácil, Nair Bello, se tornou momento antológico da TV.

Líder de audiência na Record em várias temporadas, a apresentadora foi para o SBT em 1986. O nome da atração mudou para "Hebe", mas a fórmula de risadas no sofá permaneceu intacta pelos 25 anos seguintes.

Sua marca registrada era beijar os famosos, "roubar um selinho", como dizia. Seu patrão no SBT, Silvio Santos, fugia da brincadeira. Em cena rara, a beijou na entrega do Troféu Imprensa de 2009.

Ao sair da emissora, no final de 2010, se mostrou grata, mas disse estar cansada do troca-troca de horário promovido pelo chefe.

Não perdeu a chance de fazer piada que estava indo para a Globo, quando participou de homenagem no "Domingão do Faustão", raro gesto da emissora para quem não é seu contratado.

Hebe foi para a RedeTV!, onde estreou em 2011, aos 81 anos. Em seu primeiro programa na nova casa, visitou o Palácio da Alvorada, em Brasília, para entrevistar a presidente Dilma. Roberto Carlos também prestigiou o novo projeto.

APOIO A MALUF

Além dos elogios e dos beijinhos, não foram poucas as vezes em que ela usou o microfone para falar de política e demonstrar indignação -geralmente na abertura de cada programa.

Eleitora declarada de Paulo Maluf por muitos anos, fez campanha para o amigo nas eleições para governador do Estado em 1990. Em 99, chegou a se filiar a seu partido, o antigo PPB (Partido Progressista Brasileiro), atual PP.

Em 2007, emprestou sua imagem para o movimento Cansei, que pretendia lutar contra a corrupção.

Nos últimos anos, ela suavizou o discurso. Ainda falava com veemência, na abertura do programa, mas sobre temas genéricos.

O câncer apareceu em 2010. À época, ela declarou: "Gostaria de morrer no ar. Sei lá, falar algo no microfone e depois, puf, cair". Após tratamento, a doença regrediu, mas reapareceu neste ano.

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