Depoimento

A TV perdeu a rainha; eu perdi a minha melhor professora

Quando recebi a notícia da morte da Hebe, levei um susto. Sabia do estado difícil, da luta, das dificuldades, mas a gente nunca acredita que alguém que a gente ama possa morrer. Mas morre. Todo mundo menos ela.

Muito já se usou a palavra insubstituível. Indevidamente. Essa sim, por gerações será insubstituível. Já se tentou herdeira. Sem chance.

A televisão nasceu pra ela. Tanto que se deu ao luxo de faltar à inauguração da TV! Que apresentadora a gente conhece hoje em dia que perderia essa chance? Eu não perdi com a MTV.

Aprendi com ela a sentar num sofá em frente às câmeras -sempre na beira, nunca de pernas cruzadas. Ainda não aprendi a ler um teleprompter, o instrumento que faz os textos passarem na nossa frente.

Muito esperei pra ver seus editoriais políticos, escritos por redatores que ou captavam a alma dela ou ela os "antropofagizava", como bem entregou um deles. E tudo bem. Estava ali também uma grande atriz, só que apresentadora de TV. Também muito esperei pra ver seus modelitos, suas joias. Alguma apresentadora de TV ousaria?

O mais difícil será apagar seu telefone dos meus contatos. Ela nunca mais vai me ligar pra dizer que eu tava ótima? Nem pra falar sinceramente que o cabelo não tava bom? Hebe fazia isso... E quer saber? Sempre tinha razão.

Sua última lição televisiva pra mim foi ano passado, quando, com ela absolutamente sem voz, me chamaram pra apresentar o programa por ela, a seu lado.

Não queria. Achava que, se ela estivesse mal, que colocassem uma reapresentação qualquer. Mas fui e testemunhei o milagre que a TV operava sobre ela. Em 20 minutos no ar, a voz, que era zero, veio! Frágil, rouquíssima, melhorando, brilhando e, por fim, lá estava eu no meu lugar. A de coadjuvante! Sempre servindo de escada pra ela brilhar. Com orgulho!

A TV brasileira perdeu a rainha. Eu perdi minha melhor professora.

Viva a vida dela!