A peça que faltava

Lenise Pinheiro/Folhapress

A atriz Ondina Clais Castilho em cena da montagem de Antunes Filho

No ano do centenário de Nelson Rodrigues, faltava às comemorações a contribuição do diretor que melhor revelou a potência da escrita teatral do dramaturgo.

Com a estreia de "Toda Nudez Será Castigada", amanhã, em São Paulo, Antunes Filho preenche essa lacuna.

Ele classifica sua versão para a história do triângulo entre o viúvo conservador Herculano, a prostituta Geni e o filho dele, Serginho, de "homenagem a contragosto".

"Eu não queria encenar Nelson no ano em que todos estão montando sua obra. Eu sempre fiz Nelson", diz.

Ao comemorar os cem anos de Nelson Rodrigues, Antunes aproveita também para celebrar 30 anos de seu Centro de Pesquisa Teatral (CPT).

Antes da implementação do CPT, no entanto, o encenador já se debruçava sobre a obra de Rodrigues: é a oitava vez que eles se encontram.

Antunes foi pioneiro ao retratar o cultuado dramaturgo como trágico -e não como o autor melodramático ou de comédias de costumes como tantas vezes surge nos palcos.

Sua primeira incursão na dramaturgia rodriguiana se deu com "A Falecida", em 1965. A última havia sido outra versão da mesma obra, rebatizada de "A Falecida: Vapt Vupt", encenada em 2009.

Sua resistência em voltar ao autor no centenário foi quebrada com um convite do Sesc para que realizasse uma leitura cênica de uma obra rodriguiana na abertura do Festival Ibero-americano de Artes Cênicas de Santos, no início do mês passado.

Por desgostar da prática de leituras, Antunes optou por apresentar as cenas iniciais de "Toda Nudez". Não conseguiu parar. Para ele, é impossível se debruçar sobre Nelson Rodrigues sem mergulhar na obra por completo.