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Crítica romance Estereótipos ideológicos debilitam novelão Apesar de estrutura cuidadosa, novo livro de Menalton Braff se repete ao narrar acerto de contas com o passado ALFREDO MONTEESPECIAL PARA A FOLHA Como em "Bolero de Ravel" (2010), uma casa é o cerne de "O Casarão da Rua do Rosário". No trabalho anterior, Menalton Braff traçava o perfil de um protagonista que se recusava a sair da casa paterna para se tornar um "membro produtivo da sociedade". No novo título da sua prolífica produção, é pelo olhar de um "intruso" que conheceremos o grupo familiar apegado às tradições e à permanência que o imóvel representa; quatro tias solteironas e um tio deficiente mental. Dois irmãos saíram da casa para trajetórias opostas. Romão, representando o conservadorismo direitista, prolongado pelo filho, Rodolfo. Já Isaura, a caçula (e a mais bonita), trocará os valores familiares pelo casamento com um ativista político, cujo desaparecimento a força a viver novamente com as irmãs, certamente não de maneira pacífica, trazendo os filhos. Um deles, Palmiro, é quem -motivado pela morte da matriarca, Benvinda -repassa em sua memória os mesmos acontecimentos, e às vezes até os mesmos trechos, nas cinco partes da narrativa. A decepção com "O Casarão da Rua do Rosário" é que, apesar do autor à primeira vista manipular uma estrutura cuidadosa, não há razão alguma que justifique as cinco partes do livro. As duas primeiras (focadas na megera Benvinda e no tio Ataulfo) podem até ser defensáveis; as outras vão progressivamente esboroando o interesse da história e enfraquecendo o texto. A quinta raspa o tacho, já raso. O SAL DA TERRA Além da tessitura discutível, Braff mostra-se incapaz de refletir seriamente sobre as opções políticas dos seus personagens sem cair nos mais reles estereótipos. Todos os personagens identificados com a direita são desprezíveis, reacionários desvairados ou oportunistas, incapazes de afeto ou de alegria (o único que escapa desse círculo infernal é o deficiente mental!). Já os da esquerda guardam as reservas para a felicidade, os vínculos familiares autênticos, enfim, são o sal da terra (embora nenhum deles nos interesse especialmente). Ora, ora. Assim é fácil compor um painel romanesco.Palmiro diz a certa altura: "Isso é um trabalho do meu entendimento sobre minha memória porque esta costuma ser caótica e aquele busca dar ordem ao caos". Parece mais o uso de uma receitinha ideológica, o resto como consequência. O acerto de contas com o passado na forma de um novelão. ALFREDO MONTE é doutor em teoria literária pela USP e criador do blog MONTE DE LEITURAS (www.armonte.wordpress.com)
O CASARÃO DA RUA DO ROSÁRIO |
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