Crítica romance

'O Bom Inverno' cansa paciência dos leitores com linguagem prolixa

"O Bom Inverno", do português João Tordo, começa enganosamente, levando o leitor a pensar que vai encarar uma bem-humorada história protagonizada por um escritor em crise.

Bem, há mesmo graça e escritores afundados em profusas encrencas na trama, que não demora a se mostrar por demais submissa às regras dos romances policiais.

Temos o narrador, jovem escritor hipocondríaco. Em dúvida em relação à literatura devido aos próprios fracassos, ele topa ir a um congresso literário em Budapeste, onde conhece Vicenzo Gentile, sua namorada Olivia e Nina, namorada e agente literária do escocês John McGill.

FÓRMULA DE SUSPENSE

Depois da esbórnia inicial, Vicenzo convence todos a irem para a mansão do grande produtor hollywoodiano Don Metzger no sul da Itália.

É importante informar que Metzger está morto e foi lançado aos ares num balão mortuário logo na primeira página do livro. "Bom Inverno" é como o produtor se referia ao verão na região do Lácio.

Até aí é a parte divertida, pois tudo nela beira o disparate. Metzger trata-se do que o diretor Orson Welles explicou a Peter Bogdanovich, que o cumprimentou pela maneira como dominara o filme "O Terceiro Homem" (1949), no qual Welles foi ator.

"É como no teatro, o personagem do sr. Wu, muito conhecido pelas estrelas da velha escola, às quais não gostavam de fazer sua entrada antes do final do primeiro ato. Primeiro deixavam os outros atores se moverem pelo cenário durante 3/4 de hora, sem perguntar outra coisa que não 'Viu o sr. Wu?'. 'O que vai acontecer quando o sr. Wu chegar?' () E então, afinal, soa um gongo enorme, e o sr. Wu aparece (). Cai a cortina; os espectadores aplaudem: 'Que ator formidável!'."

Só que neste caso, quando aparece, o sr. Wu, ou Don Metzger, já está morto.

E aqui vem a fórmula de suspense adotada por Tordo, lembrando esquemas de Agatha Christie. Pode ser resumida assim: 1) ocorre uma festa numa mansão; 2) surge um morto, ou vários; 3) os convidados são impedidos de sair até que o caso se resolva.

Quando se chega a este ponto, porém, o humor delirante do início já se esfumou na linguagem prolixa e no céu, junto ao cadáver de Metzger e à paciência do leitor.

JOCA REINERS TERRON é autor de "Do Fundo do Poço se Vê a Lua", (Companhia das Letras), entre outros

O BOM INVERNO
AUTOR João Tordo
EDITORA Língua Geral
QUANTO R$ 38 (432 págs.)
AVALIAÇÃO regular