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Americano recorre à xilogravura para criar HQ sobre Brasil

Cole Hoyer-Winfield, 25, idealizou série "Life Is Fiction" durante suas andanças e estudos por cidades do país

Apaixonado pela técnica de gravura em madeira, fã de Gilvan Samico ambientou 1º capítulo em Curitiba

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DO RIO

"Quando eu era garoto, nunca entendia por que as pessoas viajavam. Para onde elas iam? Por que decidiam sair se tudo de que precisavam estava em casa?"

O personagem que se questiona, nas páginas da história em quadrinhos "Life Is Fiction" (a vida é ficção), é o próprio autor, o americano Cole Hoyer-Winfield, 25.

Foi viajando pelo Brasil que ele encontrou respostas e um rumo artístico para sua vida, representados no projeto da HQ criada com xilogravuras -a ancestral (e trabalhosa) técnica de gravura na qual se utiliza madeira como matriz para os desenhos.

"Life Is Fiction" mistura as andanças do americano pelo Brasil com figuras históricas e folclóricas do país. Ela será dividida em três capítulos -o primeiro deles já disponível no site www.colehw.com que serão reunidos em um livro ao final do processo.

"Queria mexer com a barreira entre ficção e realidade", diz Hoyer-Winfield em português fluente, em entrevista à Folha por telefone.

"Eu uso parte da história e do folclore do Brasil, além de monstros e outras narrativas minhas que são inspiradas por uma mistura de coisas brasileiras e do meio-oeste americano", diz o artista.

Sua relação com o país começou em 2004, quando fez intercâmbio de um ano em Oswaldo Cruz, interior de SP. Voltou em 2008 para estudar artes plásticas por seis meses na Faap, em São Paulo.

Regressaria ainda outras duas vezes, passando por Curitiba, São Paulo e Olinda. Na última, visitou aquele que chama de "meu xilogravurista favorito no Brasil", o pernambucano Gilvan Samico.

À medida que rodava o país, rascunhava cenas depois desenhadas na madeira -ele detalha o procedimento num vídeo em seu site.

"Quando você faz uma xilogravura de um desenho, toda a estrutura dele muda, o trabalho fica muito mais forte", diz. "Eu me conectei com a xilogravura porque meu pai era carpinteiro, então desde pequeno tenho uma ligação com madeira, tábuas."

Na última de suas vindas ao Brasil, entre 2011 e março passado, fez residência artística na Faap e gravou na madeira o primeiro capítulo de sua HQ, centrado em Curitiba, sobre a história de Ildefonso Pereira Correia, o barão do Serro Azul, produtor de erva-mate do século 19.

"O próximo vai ser mais relacionado a São Paulo. Será bem surreal, as conexões com a história de Curitiba vão ser baseadas em fatos históricos, mas também em muita coisa folclórica e imaginada."

Para bancar o projeto, Hoyer-Winfield usou o mais popular site de financiamento coletivo, o Kickstarter.

Teve 25 patrocinadores e superou um pouco sua meta de arrecadação (conseguiu US$ 1.103, cerca de R$ 1.770, na época), mas não demorou a perceber que tinha calculado mal os custos. "Achei que aquele dinheiro daria para os três livros, mas não dá."

Ele ainda busca mais verba para, entre outras coisas, lançar uma versão da HQ em português. "Como precisava ter certeza de que venderia algumas, para financiar o projeto, fiz em inglês, porque a maioria dos meus colecionadores é americana."

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