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Crítica romance Trama de Tabucchi manipula com maestria diferentes gêneros ADRIANO SCHWARTZESPECIAL PARA A FOLHA Ao final da leitura de "Noturno Indiano", romance do escritor italiano Antonio Tabucchi relançado agora, tem-se a impressão de que uma brusca inversão narrativa rearranja o sentido do que até então acontecera. Composto por 12 capítulos que retratam eventos de 12 diferentes noites em 12 distintos lugares da Índia, o livro conta a história de uma busca: o narrador procura um amigo que se perdeu no país. Mais importante do que isso -e talvez, portanto, do que o sentido que se rearranja ao final-, me parecem ser os fragmentos de histórias que, a cada uma dessas noites, esse detetive improvisado coleta (ou talvez não, porque o que ele vai fazer com elas têm tudo a ver com a inversão...). É aí que surgem o médico especializado em uma área, a cardiologia, a ladra atrapalhada que ocupara um barulhento quarto de hotel antes do protagonista, o carteiro irritado que sai da Filadélfia apenas com uma lista telefônica, com a qual arquiteta uma estranha vingança, ou ainda o dirigente da Sociedade Teosófica que demonstra um inesperado conhecimento de Fernando Pessoa. Como a epígrafe de Maurice Blanchot já antecipa, são todos um pouco culpados ("As pessoas que dormem mal parecem ser mais ou menos culpadas. O que fazem? Tornam a noite presente."). Tem-se aqui, assim, uma mistura de relato de viagens, livro policial e um hiper-reduzido romance de formação. A mistura é manipulada com maestria pelo autor, um grande conhecedor da literatura portuguesa, que morreu em março, aos 68 anos. ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura da USP.
NOTURNO INDIANO |
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