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Crítica romance Nem clássico nem mero entretenimento, "Vaclav & Lena" é obra de estreia adorável "Vaclav & Lena" É adorável e delicado. é uma comovente narrativa sobre o amor juvenil, sem ser ingênuo ou idealista NELSON DE OLIVEIRAESPECIAL PARA A FOLHA Romances como "Václav & Lena" parecem superficiais, até mesmo desnecessários, num debate polarizado. O primeiro livro de Haley Tanner jamais será um monumento literário, como "Ulysses", de James Joyce, ou outros artefatos complexos do alto modernismo produzidos por Virginia Woolf e William Faulkner. Tampouco será um sucesso absoluto de público, como os best-sellers de fantasia mística de Paulo Coelho, J.K. Rowling e Stephenie Meyer. Enquanto best-sellers e long-sellers (clássicos que vendem relativamente bem há décadas ou séculos) trocam insultos e balaços, "Vaclav & Lena" atravessa, sem ser notado, o descampado entre as duas trincheiras. Mas o romance de Haley Tanner chega às livrarias brasileiras cercado de adjetivos perigosos. Nas orelhas, na quarta capa e no release da editora, expressões de afeto avisam que temos em mãos uma narrativa adorável, delicada, sobre o amor juvenil, sobre como o forte abraço emocional pode superar as circunstâncias. São expressões muito perigosas porque podem estar disfarçando a verdade: que se trata de um romance piegas e sentimental. Felizmente, não é o que acontece. "Vaclav & Lena" é adorável e delicado, sem ser piegas e sentimental. É uma comovente narrativa sobre o amor juvenil, sem ser ingênuo ou idealista. SEPARAÇÃO Na primeira parte do romance, intitulada "Juntos", Vaclav e Lena têm dez anos e vivem na comunidade de imigrantes russos de Brighton Beach, no Brooklyn. A amizade é a maneira que encontraram de resistir à pobreza e à segregação. O maior desejo de Vaclav é se tornar um mágico mundialmente respeitado, como seu herói Harry Houdini, outro imigrante. Sua melhor amiga, Lena, é uma órfã problemática, retraída, com dificuldade até para aprender o inglês. Um dia, Lena desaparece da vida de Vaclav. Na segunda parte, "Separados: Vaclav", e na terceira, "Separados: Lena", os dois já estão com 17 anos, mais maduros, mais estáveis financeiramente. O afeto não arrefeceu um grau sequer. Nesses sete anos de separação, Vaclav, o aprendiz de mágico, tentou entender o sumiço da amiga, enquanto Lena, a ex-assistente do aprendiz de mágico, tentava desvendar o mistério que cerca a história de seus pais. Na última parte do romance, "Juntos Outra Vez", o reencontro resolve o conflito principal da trama -a separação física dos apaixonados- e dá início a outro, mais monstruoso. A separação física cede lugar a outra separação, mais íntima. Na feliz analogia proposta pelo narrador: "o mundo se separou, se juntou e se separou outra vez; o mundo está se batendo como dois címbalos". Nem monumento nem best-seller, nem clássico nem mero entretenimento, o romance de estreia de Haley Tanner segue sossegado pelo caminho do meio, indiferente ao fogo cruzado. NELSON DE OLIVEIRA é doutor em letras pela USP e autor de "Poeira: Demônios e Maldições" (Língua Geral).
VACLAV & LENA |
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