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Folhateen

Colado no palco

A vida na estrada do "roadie" brasileiro que já trabalhou com Amy Winehouse e hoje acompanha o Gossip

DANILA MOURA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em 2006, aos 17 anos e recém-aprovado no vestibular para o curso de Rádio e TV, o paulistano Djamir Filho quase caiu da cadeira quando recebeu um e-mail com um convite para morar por seis meses na Inglaterra.

O chamado era irrecusável: uma proposta de trabalho como "roadie", responsável pela escolha e manutenção dos instrumentos musicais, da banda brasileira Cansei de Ser Sexy, que estava em turnê na Europa.

"Acordei meus pais na hora que li aquilo. Eu nem acreditava", disse ele ao Folhateen, enquanto passa férias em São Paulo.

Três anos antes, Pinguin, como é conhecido, era só um moleque fazendo bico de panfleteiro para um estúdio de música em São Paulo.

Estudante de guitarra e funcionário exemplar, logo se tornou "roadie".

Foi nessa época em que ele conheceu o CSS.

"Lembro dele ajudando na gravação do primeiro disco da banda. É dedicado, focado e apaixonado por música. Tava meio na cara que ia dar certo", conta Rodrigo Issobe, seu ex-patrão no estúdio.

Na estrada, ele conheceu novas bandas e fez amigos. Aos poucos, começou a chamar atenção pelo trabalho.

Desde aquele e-mail, a lista de artistas internacionais para quem cuidou de instrumentos musicais ou da montagem de palco só cresceu.

Depois de turnês com artistas como MGMT e Florence and the Machine por quatro continentes, hoje ele acompanha o Gossip, uma das atrações do festival Planeta Terra, que acontecerá em São Paulo no próximo dia 20.

No currículo de Pinguin, o nome mais luminoso é o de Amy Winehouse (1983-2011).

Antes da série de shows que fez no Brasil, ano passado, cinco meses antes de morrer, a cantora o procurou. Depois, o recebeu em casa para acertar detalhes do trabalho.

"Ela era pequenina e gentil. Eu não entendia como uma pessoa de gestos tão ternos estava envolvida em tantos escândalos."

Àquela altura, Djamir não era só um "roadie". Com o acúmulo de experiência, ele foi promovido a "stage manager", um gerente de palco.

Hoje, ele é responsável pela compra e pela montagem dos instrumentos, sua disposição durante o show, além de coordenar a montagem e a desmontagem do palco.

Deixou de ser chefiado para ser chefe. Às vezes, de equipes com mais de cem pessoas.

"CAUSOS"

Atuando em um mercado disputado, em que um "stage manager" experiente pode ganhar mais de US$ 5.000 (cerca de R$ 10.000) por show, Pinguin coleciona carimbos no passaporte e muitas histórias.

A cantora Florence Welch, por exemplo, o presenteou com o disco de platina que ganhou pelo disco "Lungs", em 2010, depois do fim daquela turnê.

Depois disso, ainda a acompanhou abrindo shows do U2 nos Estados Unidos, no ano passado.

A estrutura dos irlandeses o impressionou. "Cada integrante do U2 tem um técnico monitorando o som embaixo do palco; e guitarras em número dobrado, é surreal".

CAMINHO DOS PALCOS

Para quem viu "Quase Famosos", do diretor James Cameron, e acha que vida de banda na estrada é só farra, Djamir Filho contesta: "É muito, muito trabalho".

Até se tornar "stage manager", um degrau abaixo do "tour manager", esse sim, o chefão nas turnês de grandes artistas, foi preciso ralar.

"Gostar de música é fácil, mas não basta. Um bom 'roadie' ou 'stage manager' tem de entender também de engenharia elétrica e técnica de áudio. Ser músico ajuda, e começar trabalhando em estúdios, muito mais", lista.

Djamir, o pai, que acordou assustado naquela madrugada há sete anos, morre de orgulho: "Tenho um artista internacional em casa".

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Os famosos'Roadies' que saíram de trás dos palcos

Lemmy Kilmister
Líder do Motorhead, foi 'roadie' do guitarrista Jimi Hendrix

Noel Gallagher
Antes de formar o Oasis, foi 'roadie' da banda Inspiral Carpets

Ben Shepherd
Até ser se tornar baixista do Soundgarden, atuou como 'roadie' do Nirvana

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