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Peça narra religiosidade dos cortadores de cana

"Terra de Santo" investiga, com linguagem poética, o universo sacro brasileiro

GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Newton Moreno recria o mundo através da fala. Usa sua dramaturgia lírica para apresentar Brasis esquecidos.

Em "Terra de Santo", novo trabalho deste premiado autor e diretor, criado em processo colaborativo com seu grupo Os Fofos Encenam, mais uma vez ele traz à cena a riqueza da oralidade de regiões distantes dos grandes centros urbanos do país.

Ele investiga sobretudo a poética da fala pernambucana, seu Estado natal.

Leva ao palco uma sonoridade tão particular que parece pertencer a um idioma diferente do português do restante do país.

Com os demais integrantes do grupo, o dramaturgo pesquisou a vivência dos cortadores de cana-de-açúcar em Vicência (Pernambuco) e Piracicaba (São Paulo), polos de cultura canavieira.

Buscavam dar continuidade à investigação dos processos de formação do Brasil empreendida pelo grupo em montagens como "Memória da Cana"(2009), que apresentou o impacto da cultura da cana-de-açúcar nas relações familiares.

Desta vez, o foco se amplia, recaindo sobre o território sagrado dos canavieiros.
"Havia nos engenhos um único pedaço de terra onde não se plantava, no qual os trabalhadores praticavam sua fé. Eram as terras de santo", conta ele.

SAGRADO

Na trama do espetáculo, esta terra está ameaçada. O proprietário quer transformar o local em solo canavieiro. A primeira parte da montagem, de caráter realista, insere a plateia no refeitório dos cortadores de cana.

O espectador senta-se entre os atores. Ganha marmita, come ao lado deles, testemunha um dos poucos momentos de descanso dos trabalhadores -em geral conflituosos pelas diferenças religiosas existentes e pelo autoritarismo do chefe do local.

O universo sacro é apresentado na segunda parte da peça. Nela, a plateia conhece a tal terra de santo, que serve a múltiplas crenças e se revela um microcosmos da religiosidade do brasileiro.

O cheiro de incenso, os cânticos religiosos e a ambientação onírica aguçam os sentidos do espectador.

Na ânsia por proteger a terra, mulheres realizam cerimônias religiosas, durante as quais mortos de tempos diversos e religiosidades múltiplas são ressuscitados. Trata-se de uma maneira poética de contar parte da história da cana-de-açúcar do país.

Ao mesmo tempo em que o espetáculo busca entender o impacto da cultura canavieira nas relações sociais do país hoje, convida a uma reflexão sobre o sagrado.

Para Moreno, a terra de santo de cada membro da plateia também está em perigo.
"Temos uma herança sacra que nos define e que nos dias de hoje se vê ameaçada. Meu trabalho é de recuperação", define ele.

TERRA DE SANTO
QUANDO ter. e qua., às 20h30; sáb., às 21h; dom.; às 17h; até 11/11
ONDE Sesc Belenzinho (rua Padre Adelino, 1.000; tel. 0/xx/11/2076-9700)
QUANTO R$ 24
CLASSIFICAÇÃO 16 anos

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