Crítica Comédia

Longa ganha na oposição entre astuto e matuto, mas perde cinismo na reta final

Se há um décimo primeiro mandamento para a comédia, este deveria dizer: "Não se levará a sério". Este é o pecado final, mas capital, de "Os Candidatos".

De resto, a sucessão de piadas boas ou só razoáveis garante os bons momentos da história que coloca face a face dois competidores, um político profissional e um amador, numa disputa eleitoral para a vaga de deputado no Congresso americano.

Jay Roach, experiente diretor dos paródicos "Austin Powers" e de "Game Change", produção da HBO premiada no último Emmy, explora o roteiro em zigue-zague que tira o máximo proveito do talento histriônico de Will Ferrell em duelo com a seriedade aparente de Zach Galifianakis.

A oposição entre o astuto e o matuto serve para expor as contradições da política e demolir a farsa maior do interesse público na medida em que os candidatos não passam de marionetes de forças muito mais definidoras que ditam o que eles devem fazer ou deixar de fazer em público.

Acima desse ponto de partida, digamos, "engajado", o humor de fato acontece quando as situações montadas fogem ao controle, quando os candidatos se esquecem da farsa e partem para a baixaria. Nesses momentos, a inversão de papéis embola a disputa e torna indistintas a situação e a oposição.

Quando predomina o vale-tudo da política real, o filme alcança seus melhores momentos de acidez, deixando bem claro que, lá como aqui, a disputa de cargos públicos não passa de pura palhaçada.

O defeito, no entanto, é que, depois de demolir quase tudo, "Os Candidatos" perde tempo tentando reconstituir ou salvar as sobras, pois afinal o ideal da democracia precisa ser preservado.

Com um final tão na contramão do cinismo predominante, o melhor a fazer é correr para o banheiro cinco minutos antes dos créditos subirem.

(CÁSSIO STARLING CARLOS)