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Em 'Na Neblina', redução do drama ao essencial soa falsa CÁSSIO STARLING CARLOSCRÍTICO DA FOLHA A suspensão de fronteiras entre documentário e ficção, recurso apontado como linha de força do cinema contemporâneo, ganha nos filmes de Sergei Loznitsa a demonstração de seu alcance e limite. A retrospectiva dedicada ao cineasta revela que a transição de trabalhos com maior evidência documental para narrativas ficcionais impõe escolhas que diluem o impacto original de sua obra. Em "Minha Felicidade", seu primeiro longa de ficção, o diretor registrou a degradação do presente por meio de um olhar em trânsito, o percurso de um motorista de caminhão que testemunhava uma sucessão de violências. Ali, a inserção de fragmentos do passado vinha perturbar o realismo aparente do presente, como instantes de imaginação que desestabilizavam a crença ingênua na imagem. Em "Na Neblina", o diretor avança mais enfaticamente em terreno ficcional, evitando, contudo, os falsos encantos da reconstituição histórica. O desafio aqui é construir um filme "de época" e, ao mesmo tempo, atemporal. Nesta fábula sobre a ausência de valores em tempos de barbárie -a incontornável Segunda Guerra-, a redução do drama ao essencial dispensa ações espetaculares e nazistas caricatos, retirando de cena os vilões de almanaque para mostrar o dilema moral do homem ordinário. Para isso, Loznitsa despoja a forma e elimina os enfeites seguindo a crença que a ascese culmina imediatamente em algum tipo de revelação. O passo, contudo, soa falso. A insistência na desdramatização da interpretação dos atores acaba se convertendo num maneirismo às avessas, numa ostentação da forma. Não por acaso, o filme termina com um diálogo além do óbvio e um truque cênico em que a velha ideia de mensagem é martelada como só se fazia no cinema antes de desenvolverem a lógica da sugestão. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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