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Loznitsa concilia rigor e desesperança

36ª MOSTRA DE SP

Diretor bielorrusso, um dos mais prestigiados da atualidade, é tema de retrospectiva no evento

Criterioso uso do som e preferência por cenas longas marcam a obra do cineasta, que virá a SP no fim de semana

BRUNO GHETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A desesperança permeia a obra do bielorrusso Sergei Loznitsa, 48, um dos homenageados da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que exibe retrospectiva quase completa de seus filmes.

Em documentários ou ficções, longas ou curtas, o diretor não deixa margem para ilusões sobre a vida na ex-União Soviética, onde sua obra se concentra.

"Passei 15 anos viajando pelo campo, na Rússia. Faço filmes sobre territórios e pessoas que conheço e com os quais me importo", diz Loznitsa, em entrevista, por email, à Folha.

É possível que o seu pessimismo não seja tão especificamente voltado à realidade rural pós-soviética.

"Sempre há um elemento antropológico em um filme, já que abre uma janela para uma cultura em particular. Mas gosto de pensar que há uma essência universal nos personagens e situações que crio, que não se restringem só a um país ou a uma cultura em específico."

O diretor estará em São Paulo neste fim de semana para apresentar seus filmes. A visão dura sobre a humanidade aliada a uma admirável competência técnica (com belos planos-sequências) o tornaram um dos diretores mais prestigiados da atualidade.

Seus filmes mais conhecidos são "Minha Felicidade" (2010) e "Na Neblina" (2012), mas o bielorrusso constrói uma interessante trajetória de documentarista desde os anos 1990, quando largou a carreira de matemático.

Sua estreia, "Hoje Vamos Construir uma Casa" (1996), já trazia as bases de seu cinema: a observação da rotina camponesa, o rigor no uso do som e a preferência por tomadas longas.

"Planejo todos os planos dos meus filmes com muita antecedência. Faço 'storyboards' e ensaios. Sou até aberto a improvisos, mas só onde cabem", diz ele.

Loznitsa também é conhecido pelo ritmo arrastado de seus filmes -em "A Estação de Trem" (2000) consegue o milagre de prender a atenção mesmo só mostrando pessoas dormindo em um terminal, por 25 minutos.

"Cada um tem seu ritmo. Uso a lentidão como ferramenta para que o espectador sinta a narrativa. Deixo que ele as viva, as experimente."

Com presença expressiva em suas ficções e no documentário "Bloqueio" (2005) -todo com imagens reais da ocupação alemã em Leningrado-, a Segunda Guerra é uma das obsessões do cineasta. Ele voltará ao tema, aliás, em seu novo longa.

"As cicatrizes persistem. A propaganda soviética criou o mito de uma 'Grande Guerra Patriótica' que pouco tem a ver com a realidade. Poucos sabem que civis da Belarus deram boas-vindas aos 'libertadores' alemães. Para seguir adiante, é preciso conhecer o passado, ou a história se repetirá."

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