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Diário de Guadalajara

O MAPA DA CULTURA

Nobel com "mariachis"

Vargas Llosa e a feira literária mexicana

SYLVIA COLOMBO

A Feira Internacional do Livro de Guadalajara (FIL), que terminou no último domingo, não acontece no lugar mais charmoso desta que é a segunda cidade mais importante do México. Perto do pavilhão da Expo, há apenas hotéis, centros de convenções e poucas opções gastronômicas.

Não muito longe dali, porém, Guadalajara pulsa cultura e história, guardando os vestígios de sua longínqua fundação, em 1542. No centro antigo, além das igrejas e dos edifícios administrativos da época da colônia, está o impressionante Instituto Cultural Cabañas.

Construído no começo do século 19 como um dos maiores e mais antigos complexos hospitalares das Américas, destinou-se a dar abrigo a órfãos, deficientes, doentes pobres e anciãos.

Entre 1937 e 1939, o muralista José Clemente Orozco (1883-1949) pintou as paredes e o teto da capela do local. As 53 imagens gigantescas tomam paredes, tetos e a cúpula da igreja, chegando a causar alguma vertigem. Estão ali elementos da cultura indígena, o choque com os espanhóis e a religião católica, episódios da história do México.

Hoje, o Instituto Cabañas é um centro cultural, com aulas de arte e programação musical e de exposições.

Foi palco de uma das festas da Feira Internacional do Livro e deslumbrou os estrangeiros, que pareciam prestar mais atenção na imponente arquitetura do que nas projeções feitas em suas paredes ou na música que soava pela praça.

A VEZ DOS "MARIACHIS"

No segundo dia de FIL, os mexicanos acordaram com a notícia de que a Unesco havia declarado os tradicionais "mariachis" como um patrimônio cultural imaterial da humanidade.

Símbolos da cultura mexicana de um modo geral, esses conjuntos musicais nasceram na região que engloba o Estado de Jalisco (cuja capital é Guadalajara).

Nas ruas e nos restaurantes, era possível ver grupos interpretando o repertório agora ainda mais vasto dos "mariachis". Se antes cantavam o gênero popular e camponês da região, hoje incluem valsas, "rancheras" e música romântica nacional, além de canções estilo "mariachi" feitas em outros países.

Num jantar em homenagem a Mario Vargas Llosa, o prêmio Nobel já havia se despedido e estava prestes a ir embora quando foi quase atropelado por um grupo que entrou no restaurante cantando e tocando alto. O peruano tomou um susto, depois disse: "Ah, 'mariachis', então fico um pouco mais", e voltou sorridente para seu lugar para escutar algumas canções.

CHILE

Os chilenos já estavam felizes durante a FIL, quando souberam que serão o país homenageado da edição do ano que vem. A pátria dos poetas Pablo Neruda (1904-73) e Gabriela Mistral (1889-1957) agora coloca fé na sua prosa. "Os dois são poetas imensos, universais, mas fizeram sombra à produção dos prosadores. Agora estamos começando a nos mostrar", disse Nona Fernández, 40, autora da novela "Mapocho" e a mais simpática e articulada entre as 25 revelações latino-americanas reunidas pela FIL.

Depois, veio o veterano António Skármeta, que teceu elogios aos estudantes chilenos que se levantaram contra o governo por melhorias na educação, e ainda declamou o poema que fez à líder do movimento, Camila Vallejo: "Camila/ Qué será de ti/ Hace dos años eras niña/ Hoy todos te admiran/ Camila/ Qué manera de vivir/ Blue jeans gastados/ Argolla en la nariz de Chile".

A festa dos chilenos se tornou completa quando foi anunciado o Prêmio Cervantes, o mais importante da língua hispânica, para Nicanor Parra. Aos 97 anos, o irmão intelectual da visceral Violeta Parra (1917-67) já está cotado como uma das atrações mais disputadas da próxima FIL.

"GRANTA" MEXICANA

E a revista "Granta", tão inglesa em sua origem, e que projetou nomes como Martin Amis e Ian McEwan ao mundo, parece se sentir cada vez mais à vontade com a língua de Cervantes. Depois de fazer uma edição dedicada a jovens romancistas de língua hispânica, agora planeja produzir edições por países.

Na FIL, a editora Valerie Miles anunciou para o ano que vem uma "Granta" inteiramente dedicada à nova literatura do México, que abrirá série a ser estendida a outros países da América Latina.

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