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Diário de Nova York

O MAPA DA CULTURA

Ocupe 2012

Movimento chega à cultura e à academia

VINCENT KATZ

tradução CLARA ALLAIN

O ANO DE 2012 está aqui, e o Ocupe Wall Street também. O movimento Ocupe ganhou força e se prepara para um ano que, esperam seus integrantes, será mais frutífero do que 2011.

É justo dizer que o movimento Ocupe Wall Street, apesar de ter sido expulso de sua base original, no Zuccotti Park, está entrincheirado em Nova York como ideia, como sinal dos tempos e como força ativa no debate cívico, político e econômico.

Mas as coisas não têm sido fáceis. A praça Zuccotti está fechada com barricadas desde que foi esvaziada pela polícia, em novembro. As barricadas foram retiradas no último dia 10, mas novas medidas contra barracas, sacos de dormir e até mesmo proibindo pessoas de se deitarem estão sendo implementadas rigidamente.

O Ocupe Wall Street é definido por um espaço físico -é isso o que o diferenciava da multidão de movimentos on-line. O movimento é importante porque começou no epicentro físico do problema.

Impedidos de ocupar a praça Zuccotti, os manifestantes vêm procurando ganhar acesso ao Duarte Park, pertencente à Trinity Church, uma das igrejas mais antigas e ricas dos EUA. Esse fato lança luz sobre como nascem conflitos no interior de movimentos.

A igreja Trinity era uma grande apoiadora do OWS. Agora ela sente a necessidade de rejeitar esse pedido de utilização de espaço físico, mesmo em meio aos comentários antiTrinity e pró-manifestantes feitos por líderes de outras igrejas episcopalianas da cidade.

No momento, o OWS está ganhando ímpeto com eventos específicos e aniversários. Na última segunda-feira, o feriado nacional que celebra o nascimento de Martin Luther King Jr. proporcionou um ímpeto desse tipo.

King costuma ser recordado com frases genéricas de efeito, mas, na realidade, ele contestou a desigualdade econômica, de modo radical e eloquente, tanto quanto o racismo entranhado.

Na semana passada, cerca de cem manifestantes do OWS marcharam do African Burial Ground -uma área de Lower Manhattan onde eram enterrados africanos livres e escravos, na época em que essa área ficava fora do perímetro da cidade- até a sede do Federal Reserve, numa tentativa de chamar a atenção para o modo como a opressão econômica favorece a segregação racista.

ARTE QUE OCUPA

Uma série de eventos de arte relevantes para o movimento Ocupe vêm reunindo pessoas, mantendo vivas as discussões e contestando visões preconcebidas.

No início do mês, o Occupy Cinema apresentou "Occupy Wall Street" no lendário Anthology Film Archives, no East Village, reunindo imagens recentes do movimento, em estilo de cinejornal, com filmes políticos clássicos e recentes.

O Living Theatre -espantosamente, vivendo seu 65º ano sob a direção da fundadora-diretora Judith Malina- apresenta uma nova produção, "History of the World", escrita e dirigida por Malina, que requer que o público não apenas participe mas reflita sobre seu papel em muitos dos eventos cruciais e não tão cruciais da história, desde a crucificação de Jesus até a "linda revolução anarquista não violenta que está por vir".

E o MoMA expõe trabalhos que Diego Rivera criou para sua exposição de 1931 no museu: cinco "murais portáteis" que tratam de temas ligados à desigualdade social e as vidas dos trabalhadores, além de três outros murais que ele criou depois de a exposição ser aberta, além de muitos desenhos e esboços preparatórios, todos exibidos juntos pela primeira vez.

OCUPANDO A EDUCAÇÃO

Como é o caso de todas as ideias que penetram na consciência pública, o Ocupe Wall Street também penetrou no discurso acadêmico. A Universidade de Nova York está oferecendo dois cursos, de graduação e pós-graduação, sobre o OWS.

E, em 18 de janeiro, redatores e apoiadores do AlterNet festejaram seu primeiro livro abrangente sobre o movimento Ocupe Wall Street: "The 99%: How the Occupy Wall Street Movement is Changing America", no Galapagos Art Space, no Brooklyn.

OCUPAÇÃO EM CURSO

Como que para indicar como são importantes todos esses esforços, Obama, que supostamente deveria defender os direitos dos menos poderosos, há pouco assinou a Lei de Autorização da Defesa Nacional. Entre outras coisas, ela prevê a detenção por tempo indeterminado de cidadãos americanos suspeitos de serem terroristas. O OWS já promoveu um protesto na sede principal da biblioteca pública de Nova York, na esquina da Quinta Avenida e rua 42, e decerto haverá outros.

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