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Imaginação O primeiro amor e dois poemas WISŁAWA SZYMBORSKAtradução REGINA PRZYBYCIEN O PRIMEIRO AMOR Dizem que o primeiro amor é o mais importante. Isso é muito romântico, mas não é o meu caso. Algo entre nós houve e não houve, se deu e se perdeu. Não me tremem as mãos quando encontro as pequenas lembranças e o maço de cartas atadas com barbante se ao menos fosse uma fita. Nosso único encontro depois de anos foi um diálogo de duas cadeiras junto a uma mesa fria. Outros amores ainda respiram profundamente em mim. Este não tem alento para suspirar. E no entanto tal como é deslembrado, nem sequer sonhado, consegue o que os outros ainda não conseguem: me acostuma com a morte. de "Chwila" (Instante), 2002 DIVÓRCIO Para os filhos, pela primeira vez o fim do mundo. Para o gato, novo dono. Para o cachorro, nova dona. Para os móveis, escadas, rangidos, caminhão, transporte. Para a parede, quadrados brancos depois de retirados os quadros. Para os vizinhos do térreo, um tema, um intervalo no enfado. Para o carro, seria melhor se fossem dois. Para os romances, poesia -de acordo, leve o que quiser. Pior para a enciclopédia e o videocassete e para aquele manual de escrita onde se encontram talvez as regras de uso dos nomes compostos - se ainda os liga a conjunção "e" ou se os separa um ponto final. de "Tutaj" (Aqui), 2009 DE UMA EXPEDIÇÃO NÃO REALIZADA AO HIMALAIA Ah, então este é o Himalaia. Montanhas correndo para a Lua. O instante da largada fixado no rasgar súbito do céu. Deserto de nuvens perfurado. Um golpe no nada. Eco -uma branca mudez. Silêncio. Yeti, lá embaixo é quarta-feira tem abecedário, pão dois e dois são quatro e a neve derrete. Tem rosa amarela, tão formosa, tão bela. Yeti, nem só crimes acontecem entre nós. Yeti, nem todas as palavras condenam à morte. Herdamos a esperança - o dom de esquecer. Você vai ver como damos à luz em meio a ruínas. Yeti, temos Shakespeare lá, Yeti, e violinos para tocar. Yeti, ao cair da noite acendemos a luz. Aqui -nem lua nem terra e a lágrima congela. Ó Yeti meiolunar pense, volte! Entre as quatro paredes da avalanche assim eu chamava pelo Yeti batendo os pés para me aquecer na neve na eterna. de "Wolanie do Yeti" (Chamando pelo Yeti), 1957 SOBRE OS POEMAS Prêmio Nobel de Literatura em 1996, a poeta polonesa Wislawa Szymborska (pronuncia-se vissuáva xembórsca) morreu de câncer no pulmão na última quarta-feira, aos 88 anos, em Cracóvia. Nascida em 1923, tematizou com ironia sua intensa vida pessoal (caso dos dois poemas de amor inéditos aqui publicados) e seus cruzamentos com a vida contemplativa (caso do poema sobre o Himalaia) e com a história e a política. Em 2011 a Companhia das Letras publicou "Poemas", sua primeira coletânea no Brasil, também com tradução de Regina Przybycien. Leia ensaio da tradutora sobre "De uma Expedição Não Realizada ao Himalaia" em folha.com/ilustrissima. Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros |
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