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Diário de Tóquio

O MAPA DA CULTURA

Papai é um cachorro

Uma família fora dos padrões na TV

ANGELO ISHI

Poucos comerciais de TV tiveram tanta repercussão quanto os da gigante de telefonia Softbank. Eles bateram um recorde: foram escolhidos pelo quinto ano consecutivo como os mais apreciados pelos telespectadores.

A série de comerciais, veiculada a partir de 2007, transformou-se em fenômeno sócio-cultural: vem fomentando o debate sobre as relações familiares e sobre a questão dos estrangeiros na sociedade japonesa.

Cada comercial é como um capítulo de uma novela que retrata uma família nada convencional: o pai é um cachorro (sim, um cachorro de verdade), o filho mais velho é negro e só a mãe e a filha são japonesas. A família acolhe uma estudante pensando que ela é do Havaí, mas logo descobre que é da cidade de Hawai, na província japonesa de Tottori.

Uns analisam que o comercial retrata a crescente diversidade das famílias, principalmente em termos étnicos. Outros vão além e palpitam que ele satiriza a fragilidade dos chefes de família: a figura do pai anda tão ausente e desmoralizada que a sua posição na estrutura familiar equivale à de um cão de estimação.

Os palpites sobre o negro também divergem: filho adotivo ou mestiço de uma relação extraconjugal da mãe? A teoria conspiratória dos xenófobos de plantão é a de que o comercial foi concebido para humilhar os japoneses.

O dono da Softbank, Masayoshi Son, é descendente de coreanos. Na cultura coreana, não há nada mais pejorativo do que chamar alguém de "filho de cão".

Fazer uma japonesa ser filha de um cão seria, portanto, uma ofensa aos nipônicos. Confira alguns comerciais em mb.softbank.jp/mb/special/students (clique no canto inferior direito).

STEVE JOBS JAPONÊS

Previsivelmente, a biografia de Steve Jobs vendeu bem no Japão, mas o destaque do momento é a biografia daquele que é considerado o "Steve Jobs japonês": justamente o dono da Softbank.

"Anpon", lançado em janeiro pela Shogakukan, não é o primeiro livro sobre Masayoshi Son, mas tem vocação para se impor sobre os outros já publicados. Ele desnuda as origens de Son, que, segundo o autor, Shinichi Sano, "tem a história mais impressionante que a do fundador da Apple".

Son nasceu em um gueto miserável de coreanos no sul do Japão. Sua família se sustentava criando porcos e fabricando bebida alcoólica clandestina nos fundos de um barraco. Hoje, é o dono de um império que introduziu o iPhone no Japão e inclui até um time de beisebol.

No livro, Son resume a diferença entre ele e Jobs: "Nos EUA, os empreendedores de tecnologia da informação são admirados como heróis. No Japão, somos desdenhados como novos ricos fúteis".

LIBERDADE DE IMPRENSA

Os jornalistas japoneses estão chocados com o fracasso de audiência da minissérie "Unmei no Hito", que passou na emissora TBS até março. Era a versão televisiva de um romance, baseado em fatos reais, que abordava de frente a questão da liberdade de imprensa.

O roteiro foi embasado em minuciosa pesquisa documental e em depoimentos de pessoas relacionadas ao escândalo de um acordo secreto entre os governos do Japão e dos Estados Unidos durante as negociações de devolução de Okinawa em 1972.

Na época, um repórter do diário "Mainichi" que divulgou material confidencial foi condenado por vazamento de segredo de Estado -um duro golpe sobre o jornalismo investigativo.

A audiência média de 12% foi um balde de água fria em quem esperava que a novela ajudasse a relembrar a importância de uma imprensa livre e combativa.

NOVO CARTÃO POSTAL

Em todas as mídias, só se fala da Sky Tree Tower, a torre de transmissão televisiva que foi reconhecida como a mais alta do mundo pelo Guinness.

A torre de 634 metros será inaugurada em 22 de maio, mas quem vier do Brasil dificilmente poderá visitá-la nos primeiros meses. As reservas iniciais são por sistema de sorteio, e as vendas na portaria só terão início em 11 de julho.

O que mais distingue a Sky Tree de outros cartões postais é a sua localização. Ela fica no distrito de Sumida, na região norte da capital, e vai dar nova vida a uma região pouco nobre, conhecida como "shitamachi" ("cidade baixa").

Junto à torre, foi construído um megacomplexo de comércio e entretenimento, com 230 mil metros quadrados.

Os arquitetos garantem: a torre é à prova de terremotos.

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