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Diário de Londres

O MAPA DA CULTURA

Um tributo ao cérebro

A complexidade de um órgão em exposição

RODRIGO RUSSO

EM TEMPOS dominados por celebridades instantâneas em programas de televisão, o cérebro se transformou em um objeto de museu. Literalmente.

O Wellcome Collection (wellcomecollection.org), localizado no centro de Londres e se descreve como um "destino grátis para os incuravelmente curiosos", apresenta até o dia 17 do próximo mês a exposição "Cérebros - A Mente como Matéria".

O museu tradicionalmente explora relações, no passado e no futuro, entre a arte, a medicina e a vida. Desta vez, o tema é o órgão mais complexo do corpo humano, com foco no que os homens fizeram a ele em nome da ciência, da medicina e da tecnologia e também no seu significado cultural.

O visitante pode, por exemplo, ver um cérebro preservado desde o período das dinastias egípcias -e com isso descobrir que as sagradas regras para embalsamar os corpos, que incluíam a extração do órgão pelo nariz, eram, às vezes, desrespeitadas. Além dos próprios cérebros, há manuscritos de estudos, fotografias e vídeos, inclusive de intervenções cirúrgicas.

No geral, não é uma exposição para corações sensíveis. De modo polido, bem ao estilo britânico, o museu avisa que a mostra contém objetos e imagens que algumas pessoas podem achar perturbadoras. Para aqueles que forem "inclinados a desmaios", o mais recomendável é passar longe.

O PIOR POSSÍVEL
Charles Saatchi, um dos grandes cérebros contemporâneos, excêntrico publicitário e colecionador de arte, lançou recentemente na Inglaterra um polêmico livro, intitulado "Be the Worst You Can Be" (seja o pior que você pode ser). O subtítulo: a vida é muito curta para a paciência e a virtude.

A falta de paciência, aliás, foi o argumento para que não escrevesse nada muito longo. Saatchi preferiu recorrer ao formato de respostas a perguntas curtas feitas por jornalistas e leitores.

As respostas até se estendem, por vezes, mostrando sua erudição, seu conhecimento das artes plásticas e, mais importante, sua afiada ironia e seu senso politicamente incorreto, tão ao sabor de livros que têm frequentado as listas de mais vendidos no Brasil.

Ao responder sobre suas principais influências na vida, ele afirma: "Jesus, obviamente. E Stálin".

Um leitor formula a questão: "Quando penso nos homens mais inspiradores e carismáticos da era moderna, penso em Martin Luther King, Nelson Mandela e Winston Churchill. Em quem você pensa?".

Saatchi não perdoa: "Penso nos grandes assassinos em massa, os líderes que eram tão inspiradores e carismáticos que foram capazes de convencer seu próprio povo a matar seus vizinhos aos milhões". A lista inclui Mao Tse-tung, Stálin, Hitler, Idi Amin e Pol Pot.

Outro bom momento do livro é a resposta sobre por que não sente respeito pela ONU: "Desde que ela foi fundada, em 1945, o mundo passou por 148 guerras".

O ANATOMISTA DA VINCI
Cérebros também foram objeto de estudo do renascentista Leonardo da Vinci, que tem nova exposição na capital britânica, desta vez dedicada apenas aos seus trabalhos que envolveram a anatomia humana.

"Leonardo da Vinci - Anatomista" exibe ao público a coleção da monarquia britânica com estudos de Da Vinci sobre o corpo, tema que sempre foi caro ao artista, que inclusive pretendia publicar um tratado de anatomia.

Com sua morte, os estudos de anatomia se dispersaram entre colecionadores privados, mas a família real britânica sempre manifestou interesse. Ao longo dos últimos 400 anos, fez aquisições de uma boa parte de seus trabalhos.

A exposição está sediada no Palácio de Buckingham, na Galeria da Rainha, o que por si só já vale o investimento de quase R$ 30 do ingresso -ainda mais às vésperas das comemorações dos 60 anos de reinado de Elizabeth 2ª, no primeiro final de semana de junho.

GLOBE POLIGLOTA
Até o próximo dia 9 de junho, o teatro Shakespeare's Globe, às margens do rio Tâmisa, promove o ciclo "Globe to Globe". As 37 peças de William Shakespeare ganharam montagens em 37 línguas.

No fim de semana passado, o Grupo Galpão apresentou, em português, sua celebrada versão para "Romeu e Julieta" (com o grudento refrão "Flor, minha flor, laiá laiá laiá..."), que já havia passado pelo mesmo teatro no ano 2000.

A semana também teve a inusitada apresentação de "Trabalhos de Amores Perdidos" na língua de sinais usada no Reino Unido, por uma companhia de surdos, a Deafinitely. O encerramento será com "Henrique 5º", em inglês.

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