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Primeiríssima mão

Regras para bem-viver

SOBRE O TEXTO
Atribuído a um sábio brâmane, "As Regras para Bem-Viver" (1748) teve ampla difusão na Europa e é considerado precursor da atual autoajuda. Entre seus possíveis autores figura Philip Dormer Stanhope, conde de Chesterfield (1694-1773). O livro sai em outubro, pela editora Unesp.

ANÔNIMO
tradução MARILISE R. BERTIN

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AO DIGNO E HONRADO
CONDE DE ****
Pequim, 20 de janeiro, 1749-50.

SENHOR,

Nem bem um mês após ter encaminhado a Vossa Senhoria a tradução que tentei fazer do Programa Oriental de Moralidade, tão famoso nestas plagas, fomos agradavelmente surpreendidos com um manuscrito de mesma dimensão, cuja antiguidade, caracteres e outras marcas internas comprovaram que pertencia à lavra do mesmo autor; ao mesmo tempo que o texto nos mostrou algo que faltava ao anteriormente considerado como um programa completo, supriu a lacuna de uma maneira muito feliz.

Depois que nele mergulhei, não pude aquietar-me enquanto não empreendesse a agradável tarefa de traduzi-lo, e nem, após terminar a tradução, deixar de me conceder a honra de remetê-la a Vossa Senhoria. Não preciso dizer a Vossa Senhoria que a energia do pensamento, a sublimidade do estilo e muitas outras particularidades provam que a obra provém da mão divina que planejou a outra. A substância lá contida traz mais provas abundantes disso.

Se não me lisonjeei ao pensar que a primeira parte teve a honra da aprovação de Vossa Senhoria, eu não deveria estar tão determinado em despachar a segunda logo em seguida. Porém, embora saiba do valor da obra e conheça a perspicácia incomum de Vossa Senhoria, seria ridículo alimentar qualquer dúvida sobre isso.

Mui respeitosamente

Seu, &c.

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LIVRO I
CONSIDERAÇÕES SOBRE O HOMEM EM GERAL

CAPÍTULO I
DO CORPO HUMANO E DE SUA ESTRUTURA

Oh, homem! Embora sejas fraco e ignorante, humilde como deves ser -filho do pó!- elevarias teus pensamentos à sabedoria infinita? Verias a Onipotência exposta a tua frente? Contempla teu próprio corpo. Foste criado de forma temerosa e admirável; louva, portanto, teu Criador com respeito e regozija-te ante ele, reverenciando-o.

Por que entre todas as criaturas és a única ereta senão para contemplar suas obras? Por que deves contemplá-las, senão para que possas admirá-las? Por que admirá-las senão para que possas adorar aquele que as criou e a ti também?

Por que razão somente em ti repousa uma consciência? E de onde ela provém?

O pensamento não está na carne; o raciocínio não está nos ossos. O leão não sabe que os vermes o comerão; o touro não percebe que é alimentado para ser abatido.

Algo diverso daquilo que vês é acrescentado a ti; algo muito além de tudo o que percebes com teus sentidos dá forma ao barro de que és feito. Atenta para isso! O que é? Teu corpo permanece perfeito depois de partir; logo, ele não é parte desse algo invisível, que é imaterial e, portanto, eterno; está livre para agir e, assim, responder por seus atos.

Tem o asno conhecimento dos usos do alimento porque seus dentes dizimam a pastagem? Ou pode o crocodilo ficar ereto, embora sua espinha dorsal seja tão reta quanto a tua?

Deus te criou assim como criou esses outros; foste criado após eles, superioridade e comando sobre todos te foram conferidos, e de seu próprio sopro a ti ele transmitiu o princípio do conhecimento.

Toma ciência, então, do orgulho que ele tem de sua criação, do elo que une divindade e matéria! Vê em ti mesmo uma parte do próprio Deus! Lembra-te de tua própria dignidade; não ouses descair no mal ou na indignidade.

Quem plantou o terror na cauda da serpente? Quem cobriu o pescoço do cavalo com alarido? Aquele mesmo que te ensinou a esmagar o que está sob teus pés e a domesticar o outro para servir aos teus propósitos.

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