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CIÊNCIA

A hora e a vez dos chimpanzés

A libertação de nossos irmãos primatas está próxima

RESUMO
Protagonista de estudos comportamentais e tido como "herói da hepatite" por seu papel na criação de vacinas, o chimpanzé está prestes a obter a proibição de seu uso como cobaia em pesquisas invasivas. Santuários em SP e nos EUA mostram desafios de sobrevivência do grande primata mais próximo ao homem.

*RAFAEL GARCIA
REINALDO JOSÉ LOPES*

A IMPRESSÃO QUE SE tem ao entrar nos laboratórios da Bioqual, empresa de pesquisa clínica em Rockville, Maryland (EUA), é a de que se trata de um hospital infantil. Na hora da faxina, não se vê muita coisa além de brinquedos espalhados pelo chão e, nas áreas de confinamento envidraçadas, folhas de papel com letras coloridas exibindo nomes de pacientes.
Os internos ali, porém, são 11 filhotes de chimpanzé usados como cobaias em estudos médicos. Há cerca de outros mil nas mesmas condições nos EUA, mas a espécie pode estar prestes a obter um direito universal que nenhum outro animal não humano tem: a "alforria" da vida de cobaia.
Os cientistas americanos estão entre os poucos que ainda podem usar procedimentos invasivos em pesquisas com chimpanzés. À exceção do Gabão, na África, os EUA são o único lugar do mundo onde macacos podem ser deliberadamente infectados com o vírus de hepatite C, por exemplo, para serem usados em testes de vacinas.
Três iniciativas em andamento -um projeto de lei no Congresso americano, uma reavaliação no sistema de financiamento federal e um pedido de mudança em decreto ambiental- têm potencial para inviabilizar qualquer pesquisa médica invasiva com chimpanzés.

COMOÇÃO É fácil entender a a comoção pública. É perturbador visitar a Bioqual e ver Xavier, chimpanzé com menos de oito anos de idade, batendo os punhos nas paredes de sua jaula de vidro, pedindo atenção a um estranho. Clara, uma filhote um pouco menor, ficou emburrada num canto quando a reportagem visitou o local.
Já Tiffany, sua vizinha, pôs-se a se balançar numa corrente de plástico pendurada em seu cubículo, olhando para o intruso. Os três só devem deixar de ser cobaias quando, ao completarem nove anos, tornarem-se fortes demais e apresentarem risco para os pesquisadores.
A Bioqual não permite que jornalistas entrem em seus laboratórios com câmeras, para que cenas como essas não vazem na internet e "sejam exibidas fora de contexto". Um dos cientistas da empresa, sob condição de anonimato, diz considerar legítimo o debate sobre o fim do uso experimental de chimpanzés. Um animal altamente inteligente e que hoje é o mais próximo dos humanos na árvore evolutiva dos primatas não poderia ser tratado com um roedor, afinal.
A proibição total das pesquisas, porém, não será uma escolha fácil

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