São Paulo, domingo, 05 de junho de 2011

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DIÁRIO DE SEUL
O MAPA DA CULTURA

Cinema ensolarado

Zaha Hadid ergue um "templo" do design no distrito da moda

LUCAS NEVES

Esqueça as excentricidades do pirata Jack Sparrow e as estripulias atléticas da trupe animal de "Kung Fu Panda 2". O arrasa-quarteirão da hora na Coreia do Sul é o drama local "Sunny" ("Sseo-ni", no original), crônica do reencontro de sete amigas de colégio, 25 anos depois da formatura.
A fita lacrimogênea de Kang Hyeong-Cheol, que estreou no começo de maio, arrastou mais de três milhões de pessoas para o cinema em suas três primeiras semanas de exibição, eclipsando as duas novidades hollywoodianas do período. No ranking dos títulos nacionais lançados neste ano, só perde para "Detective K", espécie de "Sherlock Holmes" de época, que acumula quase 4,8 milhões de espectadores.
A Coreia do Sul, não custa lembrar, tem cerca de 50 milhões de habitantes, que contam com aproximadamente 2.200 telas de cinema, segundo o órgão regulador do audiovisual local. A título de comparação, o Brasil, com população na vizinhança dos 190 milhões, se espreme em frente a 2.206 telas, segundo a Ancine.
No país asiático, pratica-se uma política de reserva de 40% do parque exibidor para a produção nacional. O financiamento dos filmes se dá em duas frentes: via patrocínio de überempresas como Samsung ou com verba de um fundo governamental.
Até o fim dos anos 80, vigorou na Coreia uma ditadura que impunha censura ao cinema e não via com bons olhos diálogos artísticos com outras latitudes. O quadro mudou a partir dos anos 90, com a diáspora de estudantes de cinema coreanos pelo mundo e as láureas sucessivas concedidas a Kim Ki-duk, Park Chan-wook e Lee Chang-dong no circuito dos grandes festivais.

NOVOS COREANOS
Cinéfilos com um pendor pelo audiovisual asiático, papel e caneta à mão! Aos poucos, vai se desenhando uma geração de cineastas habilitada a rivalizar com a sordidez tarantinesca de Park Chan-Wook ou com o lirismo silencioso do Kim Ki-duk mais recente, ambos na faixa dos 50 anos.
Shin Hyo-Seop, editor de cultura pop do "Chosun Ilbo", o maior diário coreano, chama a atenção para Yang Ik-joon, 35, ator que protagoniza, dirige, produz e assina o roteiro de "Ddongpari" (que uma intérprete em apuros traduz para o inglês como "bug", inseto), premiado no festival de Roterdã. "Tem algo de Kim Ki-duk", compara Shin. O novo esforço do artista multitarefa, pondo fé na conversão da tradutora, é "O Amor É Tudo".
Já o presidente do Conselho do Cinema Coreano, Kim Eui-suk, aposta em Na Hong-jin, que acaba de exibir seu "Mar Amarelo" na seção "Um Certo Olhar" do Festival de Cannes. Trata-se de um suspense sobre um taxista que vive na região da tríplice fronteira de China, Coreia do Norte e Rússia e sofre com a partida da mulher para a Coreia do Sul ""protagonista de seus pesadelos de infidelidade. Ao ser demitido, é tentado a aceitar uma oferta de US$ 10 mil por um assassinato.
Uma amostra da produção coreana recente aporta no Centro Cultural São Paulo (centrocultural.sp.gov.br) entre 19 e 30/7.

CAPITAL DO DESIGN
A iraquiana Zaha Hadid, primeira mulher a receber o prestigioso prêmio Pritzker, assina o projeto arquitetônico do Dongdaemun History and Culture Park, colosso erguido no coração do distrito da moda da capital coreana.
No local, em que já houve uma fortaleza, um campo de treinamento militar e um estádio de beisebol, um edifício de 83 mil metros quadrados de área construída ""cuja vista aérea lembram um fluido metálico"" irá abrigar laboratórios, salas expositivas, um museu de design e salões de convenção, entre outros espaços.
A obra, orçada em US$ 400 milhões (R$ 634,8 milhões), deve ser entregue em 2012. No entorno, parcialmente aberto à visitação, o complexo paisagístico-cultural inclui um museu que retraça a história daquele sítio histórico, um memorial da arena esportiva que funcionou ali e um pátio de relíquias encontradas durante escavações, entre outros.
Os trabalhos se inscrevem no âmbito da escolha de Seul como capital mundial do design para o biênio 2010-2011, anunciada há quatro anos pelo Conselho Internacional de Sociedades de Design Industrial.


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