São Paulo, domingo, 06 de novembro de 2011 |
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ARQUIVO ABERTO MEMÓRIAS QUE VIRAM HISTÓRIAS
O herói da cidade
TATIANA BELINKY POR OCASIÃO DO quarto centenário de São Paulo, a prefeitura preparava grandes festividades para comemorar a data histórica. A cidade estava em festa. Ser um paulistano de 400 anos era uma espécie de título nobiliárquico entre quem vivia na capital. Nós -Julio Gouveia, meu marido, e eu- estávamos na TV Tupi de São Paulo. Eu como roteirista, e Julio como produtor, diretor e apresentador dos nossos programas para a infância e a juventude. Aproximava-se a data da grande comemoração, e a TV Tupi resolveu celebrar com um programa especial. Convidou o nosso grupo, Tesp (Teatro-Escola de São Paulo), para a produção e a apresentação do programa, que receberia o nome de "Um Herói de São Paulo". Aceitamos o convite com muito prazer e começamos logo a nos preparar para esse importante trabalho. Todo mundo pensou que para o papel principal escolheríamos, talvez, um bandeirante ou algum outro tipo de herói convencional ou conhecido. Mas, diante desse desafio, Julio decidiu, peremptoriamente, que o herói de São Paulo teria de ser um médico. E esse médico seria Emílio Ribas. Para quem ainda não sabe, Emílio Ribas foi realmente um herói de São Paulo. Herói porque, após longa pesquisa, comprovou que o transmissor da perigosa e mortífera febre amarela era um mosquito. Mesmo entre profissionais, pouca gente naquele momento acreditou na descoberta. Foi daí que Emílio Ribas decidiu jogar pesado para comprovar sua teoria. O que ele fez? Fez nada menos que oferecer a própria vida, colocando-a em risco para tirar as dúvidas de quem quer que fosse. Emílio Ribas se fez trancar em um espaço fechado, cheio de mosquitos transmissores de doença, expondo-se ao contágio inevitável por inúmeras picadas. Após um período programado de tempo, Emílio Ribas, médico e cercado por médicos, escapou com vida, e seu ato heroico ficou para a história. A fotografia que ilustra esta crônica é de uma entrevista que Julio e eu fizemos com a viúva do herói de São Paulo bem antes da apresentação do programa. Eu não apareço na imagem porque estava com a câmara na mão... É curioso notar que Julio Gouveia, com uma barba branca e um pouco de maquiagem, ficava realmente parecido com o Emilio Ribas que se vê no quadro. Para começar o trabalho, tivermos de fazer muita pesquisa. Mergulhei de cabeça, com tudo, nessa rápida e indispensável tarefa. Julio, diretor e médico superconsciente, decidiu ele mesmo desempenhar o papel do herói. Não iria permitir nenhuma licença poética com o texto nem com a execução do programa, que tinham que ser rigorosamente corretos, já que a base era um fato histórico. A telepeça foi de duração maior do que a de costume, até porque a história era mais longa, como também a ocasião era especial. Quero lembrar, para encerrar esta crônica, que no mesmo dia do nosso programa a festiva cidade de São Paulo ganhou uma verdadeira chuva de prata, despejada de avião, com milhares de pequenos triângulos de alumínio que brilhavam ao sol. O efeito era o de um conto de fadas. Até quem era criança naquele dia se lembra dessa impressão maravilhosa no dia do quarto centenário de São Paulo... Texto Anterior: Diário de Caracas: Perfurando, tudo dá Próximo Texto: Imaginação: A mala Índice | Comunicar Erros |
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