São Paulo, domingo, 13 de março de 2011 |
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IMAGINAÇÃO PROSA, POESIA E TRADUÇÃO Nosso Angelus SÉRGIO ALCIDES Olhar esbugalhado. Sujo de terra, sujo de ter visto demais. Uma tempestade sopra aí. Não vem do paraíso. Nem é mesmo uma tempestade. Berro. Canivete. Cassetete. Coturno. Porão. Pua. O trópico é o pau de arara onde foi pendurado o anjo da história do Brasil, para ser torturado. Aura escangalhada, sem chance de alegoria. Asas abertas porque foram quebradas, asas repuxadas. Boca aberta porque foi atada ao cano de descarga de um jipe da Força [Aérea em 1971, que acelerou e o arrastou pela boca até o fim e depois. Sem que pudesse enxergar as ruínas atrás. Desenho de manchas de sangue no pátio de cimento, projeto de rachaduras futuras sob o trópico. Revelação / ocultamento / desvio e retorno em abismo. Nenhum outro anjo deixou cadáver. Para ser engolido. E nunca ser encontrado. Sem que possamos encerrar a busca. MUSA DEITADA Vai para o sono embrulhada em seus quatrocentos fios mais as dobras do edredon. Embalsamada em si mesma, espera o sono, o abandono, embala-se pela balsa que leva ao reino dos mortos de tédio, que não morreram, e anseiam por um recesso dos ritos e compromissos da encarnação, da paixão. Demissionária da noite e do desejo, ela veste a máscara do blecaute, vai dormir, está trancada, está desincorporada, não a invoque antes das dez da outra manhã nenhum poeta, nenhum servidor da insônia bata às portas de sua carne dormente, por devaneio, ou mais lúcida lucidez, por um beijo, uma palavra, ou seu endosso, ou seu gozo. Texto Anterior: Arquivo aberto: Valentia assistida Índice | Comunicar Erros |
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