São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 2011

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DIÁRIO DE LONDRES

O MAPA DA CULTURA

O sexo no museu

Surpresas na capital inglesa

VAGUINALDO MARINHEIRO

O SEXO ESTÁ NO AR.
Nas prateleiras, sobre as mesas, embaixo da água, nas paredes. Para qualquer lugar que se olha há um macho introduzindo seu órgão sexual (seja ele de que tamanho ou formato for) numa fêmea. Sem censura. Afinal, tudo está revestido de ciência no apropriado Museu de História Natural de Londres. A exibição, que começou no dia 11 e vai até outubro, se chama "Sexual Nature" e pretende revelar os "segredos íntimos da natureza". Para isso, usa animais empalhados, fotos, vídeos e até filmetes produzidos e estrelados pela atriz Isabella Rossellini, que se fantasia dos bichos mais estranhos para mostrar o flerte e a relação sexual entre eles.
A mostra é recomendada para maiores de 16 anos, talvez porque sejam explícitas as cópulas entre moscas, gorilas, raposas, cobras... E os organizadores avisam: deixem os preconceitos do lado de fora; não tentem usar nossos códigos de condutas para os animais, que fazem de tudo para procriar e perpetuar a espécie. Se o prazer estiver envolvido, é lucro.

PORNO-ÓPERA
Muita gente vai torcer o nariz e derrubar o pincenê. Afinal, onde já se viu colocar como personagem principal de uma ópera uma siliconada ex-coelhinha da "Playboy" que se casou com um milionário 63 anos mais velho e que morreu de overdose logo após ficar viúva!
Muxoxos dos mais puritanos à parte, estreiou no dia 17, na tradicional Royal Opera House, no centro de Londres, "Anna Nicole, a Ópera".
Os produtores já avisam, haverá muito sexo e palavrão. Mas a pedido do teatro foi bem abrandada uma cena em um clube de strippers em que ela simularia uma felação no marido, que andava de cadeira de rodas. Agora ela vai apenas sentar no colo dele.
Richard Thomas, autor do libreto, se defende. Diz que a história real da falsa loira americana a coloca à altura de outras trágicas heroínas de óperas, como Violetta, de Verdi, ou Carmen, de Bizet. Não é a primeira vez que Thomas coloca figuras atuais e controversas em suas ópera. Em 2003, ele escreveu um libreto sobre Jerry Springer, um apresentador daqueles programas da TV americana em que as pessoas vão contar sobre traições ou briga de vizinhos. Na época, o público gostou.
A nova obra já garantiu mais uma vez polêmica e ranger de dentes. Falta a bilheteria e o que dirão os críticos.

BÍBLIA NA PRIMAVERA
Os britânicos ainda estão sofrendo com o frio, que foi recorde em dezembro e não parece querer ir embora. Como luz no fim do túnel, já pensam nos festivais da primavera. Não são apenas os de música que são tradição no país. Crescem também os de literatura, que a cada ano atraem mais pessoas.
Já estão à venda ingressos para o Oxford Literary Festival, que acontece de 2 a 10 de abril nos prédios da universidade, e também para o Hay Festival, de 27 de maio a 5 de junho, em Hay-on-wye, na fronteira entre a Inglaterra e o País de Gales.
São espécies de Flip bem ampliadas, nos quais se discute literatura, mas também política, os rumos da economia e religião. No meio, apresentações de músicos e comediantes.
Neste ano, os dois festivais vão analisar o impacto da tradução da Bíblia para o inglês feita sob orientação do rei James, há exatos 400 anos. Além da importância religiosa, a obra é considerada um marco na literatura em língua inglesa.
Para o Hay, uma figura deve atrair muita gente se confirmar sua presença: é Mohamed El Baradei, que recebeu o Nobel da Paz em 2005. Ele é hoje uma das principais vozes da oposição no Egito. Os ingressos podem ser comprados nos sites dos festivais www.oxfordliteraryfestival.com e www.hayfestival.com

MECENAS RUSSO
Ao longo da história, os mecenas tiveram papel fundamental para a arte: que o digam a pintura e a escultura italiana na Renascença.
De uma forma muito mais modesta, Londres também se beneficiou de um mecenas no último mês. Foi graças ao megamilionário russo Roman Abramovich, dono do time de futebol Chelsea, que o Sovremennik Theatre, principal grupo teatral de Moscou, fez uma temporada na cidade. Foi a primeira visita de uma trupe russa desde a queda do comunismo.
Apresentaram duas peças de Tchekhov ("As Três Irmãs" e "O Jardim das Cerejeiras") e uma de Yevgenia Ginzburg ("Uma Jornada ao Furacão"). Todas faladas em russo, com legenda.
Os britânicos costumam desprezar Abramovich, visto como novo-rico exibicionista. Mas seu dinheiro dinamizou o futebol inglês. Na surdina, muitos esperam que faça o mesmo com o teatro.


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