São Paulo, domingo, 23 de maio de 2010

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IMAGINAÇÃO
PROSA E POESIA

O cachorro

IVAN TURGUÊNIEV
tradução RUBENS FIGUEIREDO

Nós dois no quarto: meu cachorro e eu. Lá fora, a tempestade uiva, desenfreada, assustadora.

O cachorro está sentado à minha frente -e me olha direto nos olhos.

Eu também olho para os olhos dele.

Parece que quer me dizer alguma coisa. É mudo, sem fala, nem entende a si mesmo -mas eu o entendo.

Entendo que neste instante, nele e em mim, vive o mesmo sentimento e entre nós não existe a menor diferença. Somos idênticos; em cada um, arde e brilha a mesma chama, pequena e trêmula.

A morte virá voando, vai abanar sobre essa chama suas asas frias e largas...

E fim!

Depois, quem poderá distinguir que chama ardeu em cada um de nós?

Não! Não são um animal e um homem que se olham...

São dois pares de olhos idênticos, concentrados um no outro.

E em cada par de olhos, no animal e no homem, a mesma vida assustada tenta se agarrar no outro.


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