São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2011

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DIÁRIO DE LONDRES
O MAPA DA CULTURA

Os Bispos do Rosário

Um caleidoscópio de insanidades

VAGUINALDO MARINHEIRO

LONDRES É SEMPRE pródiga em boas exposições de artes plásticas, como a dedicada a Degas na Royal Academy. Mas uma das mais interessantes hoje não tem artistas famosos e fica em lugar improvável, a Selfridges, tradicional loja de departamento na rua Oxford. Fica lá até 25 de outubro a quarta mostra do Museum of Everything, projeto do cineasta britânico James Brett. Estão expostas mais de 400 telas e esculturas de artistas de todo o mundo com algo em comum: problemas psiquiátricos ou deficiências de aprendizado.
A alusão ao brasileiro Bispo do Rosário aqui no título não é gratuita. Brett conhece o artista, tem em alta conta o Museu Bispo do Rosário, no Rio, e pôs nesta mostra outro brasileiro, Raimundo Camilo, que criou sua arte na mesma colônia Juliano Moreira (RJ) onde Rosário passou boa parte da vida.
A exposição é um caleidoscópio de cores e estilos, dos celulares de crochê do alemão Michael Gerdsmann às telas de influência cubista da belga Irène Gerald, mais a poética caligrafia do japonês Kunizo Matsumoto, em cartas nunca enviadas.
Bret diz que sempre quis mostrar a obra de gente que tem pouco mais que sua arte para se expressar. Sobre loucura ou sanidade, comenta que ouviu de um psicoterapeuta que todo mundo é meio desequilibrado -o que varia é o grau. É essa variação que choca e encanta quem passa pela mostra, da qual o site digevery.com oferece ótima visita virtual.

ACHEI UM LIVRO
O hemisfério Norte se prepara para hibernar no inverno (não literalmente, é claro, mas todos ficam mais em casa com as temperaturas baixas), o que abre a temporada de livros. Cresce o número de lançamentos, jornais e revistas especializadas aumentam as coberturas e prêmios são anunciados.
Uma curiosidade no Reino Unido é a campanha dos jornais "The Guardian" e "Observer" para incentivar leitores a deixarem livros em locais públicos, de modo que outras pessoas encontrem -mesma ideia do bookcrossing.com.
O "book swap" começou no último fim de semana, com os jornais espalhando pelo país 15 mil volumes arrecadados com editoras e livrarias. As cópias ficam em galerias, museus, cafés, parques e até carrinhos de supermercado, com adesivos explicando a campanha. Quem se dispõe a doar seu próprio livro pode anunciar num site onde o deixou e checar quem o pegou.
Os jornais ainda incentivam leitores a resenharem dos livros que encontraram, num processo interativo de troca de obras e impressões sobre elas. O "book swap" continua até o fim de outubro.

PRÊMIO E LIVRO CARO
Com a proximidade do anúncio do Man Booker Prize, em 18 de outubro, é quase impossível andar por Londres sem deparar com os livros finalistas: "The Sense of an Ending", de Julian Barnes; "Jamrach's Menagerie", de Carol Birch; "The Sisters Brothers", de Patrick deWitt; "Half Blood Blues", de Esi Edugyan; "Pigeon English", de Stephen Kelman; e "Snowdrops", de A.D. Miller.
De olho nas vendas, as livrarias põem as obras logo na entrada, e todos os autores participam de eventos e noites de autógrafo antes da premiação. As vendas explodem, até porque aqui os livros são mais baratos do que no Brasil. Ainda não há edição brasileira do romance de Barnes, por exemplo, para que se faça a comparação, mas "Nada a Temer", biografia do autor, sai por R$ 38 no Brasil (brochura) e por 7,19 libras no Reino Unido (cerca de R$ 20), 47% a menos.

BYE, BYE FESTIVAIS
Terminada a temporada dos festivais de música, é possível notar que, após crescer muito nos últimos anos, esse modelo tão característico da cultura britânica está em crise. São cerca de 500 festivais pelo país, alguns pequenos, outros gigantes, mas quase todos tiveram muito mais dificuldade neste ano para atrair público. Ao menos 30 não se repetirão em 2012.
Organizadores culpam as crises da indústria fonográfica e econômica. Sem faturar muito com a venda de CDs, as bandas resolveram cobrar mais para fazer shows, encarecendo a produção. Além disso, os jovens, principais afetados pelo desemprego, estão pensando mais antes de pagar 170 libras (cerca de R$ 470) por um fim de semana em festivais como Reading.


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