São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

DIÁRIO DE NOVA YORK
O MAPA DA CULTURA

Poesia em NY

A cidade encontra a rima

VINCENT KATZ
tradução PAULO MIGLIACCI

"É DIFÍCIL/ OBTER NOTÍCIAS NOS POEMAS", escreveu o poeta americano William Carlos Williams (1883-1963), médico por profissão, humanista declarado, mas também um modernista rigoroso que insistia no uso do vernáculo dos Estados Unidos. "No entanto homens morrem miseravelmente cada dia/ Por falta/ daquilo que se encontra neles".
A poesia já foi "a notícia" e serviu como base de nossa cultura, antes das mensagens de texto, do Twitter, da televisão e do rádio. As pessoas se reuniam, cantavam canções e ouviam poemas, e isso servia tanto como entretenimento como um exercício de ideias e raciocínio.
Mas o som da poesia -algo difícil de capturar numa página- está vivo e saudável, e atualmente goza de um aumento de audiência em diversas séries de leitura e clubes de poesia em Nova York.
A Dia Art Foundation, criada por uma herdeira do setor de petróleo e um negociante de arte, é conhecida por seus diversos museus e instalações permanentes de arte minimalista. A série "Leituras de Poesia Contemporânea", da fundação, prosperou entre 1987 e 2003, quando foi suspensa. Agora, com novo diretor e curador, a Dia decidiu retomar as leituras.
A nova série começou em outubro, com apresentações de duas lendas vivas da cena literária e artística de Nova York, John Giorno e Taylor Mead. Giorno, que estrelou "Sleep", o primeiro filme de Andy Warhol, em 1963, e é conhecido por seus poemas vigorosos sobre sexo, drogas e a vida à margem da lei, subiu ao palco com o microfone nas mãos e interpretou magicamente textos que levaram os leitores a lugares distantes, ao som de suas múltiplas vozes, com o objetivo de contemplar a brevidade da vida e a necessidade de compaixão humana.
Taylor Mead também tem conexões com Warhol, a quem serviu como ator em diversos filmes dos anos 60. Protagonista do cinema e do teatro alternativos, Mead continua a se apresentar semanalmente no Bowery Poetry Club, aos 85 anos! Seus poemas podem ser ácidos, mas o mais usual é que o humor cosmopolita transforme os textos curtos de Mead em equivalentes modernos dos epigramas.
O Bowery Poetry Club foi fundado em 2002 pelo poeta Bob Holman e pela pintora Elizabeth Murray. Hoje em dia, o Bowery apresenta Papa Susso (seu "griot" residente), espetáculos de poesia e música, obras teatrais de poetas e por aí vai. Seu evento anual de arrecadação de fundos, o "Hollywood Does Poetry", que convida astros como Patricia Clarkson, Claire Danes e James Gandolfini a lerem seus poemas favoritos para o público presente, tornou-se encontro imperdível na cidade.
O Poetry Project, série de leituras poéticas da St. Mark's Church, no East Village, está ativo desde os anos 60 -por lá já passaram John Ashbery, Allen Ginsberg, William Burroughs, Patti Smith e Lou Reed. A lista atual inclui Thurston Moore, do Sonic Youth, e poetas como Eileen Myles e Charles Bernstein.
No Brooklyn, o Issue Project Room reúne poesia, rock e música experimental no mesmo espaço. Espalhados por outros bairros da cidade, há bares, como o Zebulon; cafés, como o Café Orwell; e livrarias, como a Unnameable Books, nos quais leituras de poemas ocorrem regularmente. Na Poets House está a maior biblioteca de poesia dos EUA.
E tanto a Academy of American Poets quanto a Poetry Society of America oferecem prêmios anuais em dinheiro a poetas, permitindo que continuem a dedicar tempo ao que fazem, escrevendo poesia que continua a ser notícia.

BELEZA PURA
A exposição de John Baldessari ("Pure Beauty"), que está na Tate Modern e no Los Angeles County Museum of Art, acaba de abrir no Metropolitan de Nova York e fica em cartaz até 9/1. Como professor e agitador de ideias, o trabalho de Baldessari combina senso de humor seco com conceitualismo. Em uma de suas peças, Baldessari, 79, celebra a cremação de todas as obras que produziu entre 1953 e 1966. Sua atitude com relação a Hollywood é igualmente sardônica; embora aproveite ideias e imagens de filmes, ele termina sempre por desconstruí-las.

PASSADO E PRESENTE
Uma exposição fascinante na CUE Art Foundation, organizada por Irving Sandler, cronista da cena artística da cidade, e por Robert Storr, antigo curador do MoMA, acompanha o presente e o passado de nove pintores de Nova York. Alguns deles, como Lois Lane e Martha Diamond, melhoraram com o passar do tempo. Alguns grandes nomes foram esquecidos. A exposição "That is Then. This is Now." destaca a luta constante para produzir arte que encontre audiências, e de viver para a arte, com ou sem reconhecimento.


Texto Anterior: Ensaio: A subversão da economia
Próximo Texto: Arquivo aberto: A democracia é uma festa
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.