O Design e a Cidade

Obrigado, irmãos

Observando o trabalho dos Campana, aprendi que o bom design é aquele que conta uma boa história

O Brasil que hoje é celebrado internacionalmente no mundo do design foge dos clichês samba, futebol, farofa e mulata. Projetam-se trabalhos de jovens profissionais que, com talento e coragem para ousar, produzem um desenho original, sexy e, por que não, brasileiro. Os gringos estão adorando.

Da nova geração, destacam-se Rodrigo Almeida, Brunno Jahara, Maurício Arruda, Zanini de Zanine, Carol Gay, Fetiche Design e SuperLimão Studio. São profissionais que tiram partido da simplicidade do cotidiano, como pés dos carrinhos de catadores de lixo, caixas plásticas de feira, canos de hidráulica ou o batuque do candomblé.

Somos todos parte de uma geração que bebeu diretamente da fonte de Fernando e Humberto Campana. Observando o trabalho da dupla, aprendi que o bom design é aquele que conta uma boa história.

A contribuição dos Campana é fundamental para a minha geração. Foi a partir deles que a imprensa internacional voltou a olhar para nós, no início dos anos 1990. Estávamos esquecidos havia algumas décadas e carregávamos nos ombros o peso do modernismo brasileiro até o grito de liberdade evocado pela dupla.

Seu trabalho incorporou um novo Brasil, longe do exotismo tropical e com apelo a conceitos verdadeiramente enraizados na nossa cultura, como a miscigenação, o acúmulo, a sobreposição. Eles foram buscar inspiração no lixão, na periferia, no interior paulista, no artesanato e, assim, fundaram um novo movimento de design.

Quando estive no ateliê da dupla pela primeira vez, fiquei encantado com a simplicidade complexa de suas experimentações e com a absoluta coerência do seu discurso. Tramas de palhas, sushis de espuma EVA, sobreposição de acrílicos, bichos de pelúcia emaranhados -formas e volumes que eu nunca tinha visto. Depois de conhecer o trabalho desses irmãos, nunca mais fui o mesmo. Obrigado, Fernando e Humberto Campana.