São Paulo, domingo, 02 de julho de 2006

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Condomínio

Pesquisa dá voz ao morador na administração do prédio

Questionários estimulam discussão até entre os que faltam na reunião

Renato Stockler/Folha Imagem
O funcionário Lindomar Laurindo foi realocado para ajudar moradores com as compras após sondagem feita no prédio


RENATA DE GÁSPARI VALDEJÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

As assembléias de condomínio não são exatamente as "campeãs de audiência" nos edifícios paulistanos.
A não ser quando se trata de votar o orçamento ou de eleger um novo síndico, a participação dos condôminos nessas reuniões estaciona na faixa de 10% a 20%, segundo dados fornecidos pela Aabic (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios).
Para não deixar que a ausência de tantos condôminos desestimule a discussão de problemas e de melhorias, algumas administrações estão partindo para a pesquisa de opinião.
"Se o síndico busca uma gestão participativa, essa é uma boa solução", defende Rubens Carmo Elias Filho, síndico do condomínio onde mora e diretor jurídico da Aabic.
Segundo ele, que resolveu implantar a idéia em seu prédio, outra vantagem da pesquisa é ampliar o leque das discussões no condomínio.
"Não se podem abrir as assembléias para todos os assuntos. Elas são formais, e só é possível discutir as questões para as quais elas foram convocadas. E, se começarmos a convocar assembléias demais, vamos desestimular ainda mais a participação", avalia.
Com as respostas ao questionário que aplicou, Elias Filho descobriu que os condôminos queriam que um dos funcionários do prédio passasse mais tempo na garagem para ajudar moradores idosos a carregar as compras até o apartamento.
Essa foi uma das mudanças que foram implantadas, ao lado de reformas na quadra esportiva e no playground.

Inquilino fala
Fazer uma pesquisa de opinião entre os moradores tem também a virtude de incluir a opinião dos inquilinos nas questões relativas ao condomínio. Geralmente, eles são colocados de lado, já que, por lei, não podem votar nas assembléias -a não ser que estejam munidos de procuração concedida pelo dono do imóvel.
Marli Nascimbeni, subsíndica do conjunto onde mora, também testou e aprovou o método, que pretende repetir. "Usei o questionário adaptando-o para a nossa necessidade. Tive retorno de 56% dos moradores, enquanto o comparecimento nas assembléias não chega a 10%", conta.
Segundo ela, com a avaliação dos moradores, foi possível perceber, por exemplo, que uma obra que estava sendo deixada para segundo plano era considerada prioritária por muitos condôminos: a reforma da calçada na frente do prédio.

Expectativa frustrada
Antes de recorrer a esse expediente, é preciso tomar cuidado com a expectativa que uma pesquisa de opinião pode gerar entre os moradores. Como são muitas as sugestões, nem todas as reivindicações deles acabam se concretizando.
"Antes de serem colocadas em prática, as idéias precisam ser votadas pela assembléia. Se um morador se empenhar em participar da pesquisa e depois não vir nenhuma reivindicação atendida, poderá ficar insatisfeito", avalia Angélica Arbex, supervisora de marketing da administradora Lello.
Se bem planejado, porém, o levantamento pode se transformar, segundo ela, num "superplano de gestão".
Arbex, que considera a idéia "muito válida", afirma que sua administradora se prontifica a orientar os condomínios interessados em implantá-la.
Por enquanto, nos prédios que estão sob sua administração em São Paulo, alguns síndicos já criaram fóruns de discussão entre os moradores por e-mail. Já é um começo.


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