São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

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MERCADO

Só distorção faz inquilino pagar mais pelos gastos ordinários do prédio que pela mensalidade cobrada pelo proprietário

Condomínio custa 39% menos que aluguel

Fernando Moraes/Folha Imagem
A proprietária Marina Giancoli recebe o inquilino Christian Defontaine


EDSON VALENTE
MARLENE PERET
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Como numa gangorra, aluguel e condomínio rumam para sentidos opostos: enquanto o primeiro teve reajustes 4,9 pontos percentuais abaixo da inflação em 2003, o segundo a seguiu de perto -ficou só 1,6 ponto percentual atrás, considerando-se o IPCA. Assim, já há inquilinos que pagam mais pelos gastos ordinários que pela mensalidade de locação.
Com base em dados da Aabic (associação das administradoras), a Folha calcula que, mantidos os índices de 2003, em dez anos o valor do condomínio vai superar o do aluguel. Hoje, em média, ele vale 39% menos.
"A locação tem seu valor regido pela lei da oferta e da procura", afirma Claudio Anauate, 58, presidente da Aabic. "Já o condomínio é um rateio de despesas. Se, em relação à inflação, um caiu e o outro acompanhou, a tendência é a de se aproximarem", analisa.
Para não deixar o imóvel vazio, "o locador prefere receber um valor mais baixo que o de mercado, já que três meses de apartamento vago valem 24% do aluguel de um ano", afirma Hubert Gebara, 68, vice-presidente do Secovi (sindicato da habitação).
A equiparação de aluguel e condomínio pode ainda ser explicada pela má administração do prédio. Nesse caso, "o custo pode crescer até 15%", calcula Anauate. "A inadimplência também faz subir o valor do condomínio, por isso a cobrança tem de ser ágil."

Estratégias
Para fisgar inquilinos, são usadas estratégias "promocionais", como juntar aluguel e condomínio em um valor único, fixo. "É o pacote", define Roseli Hernandes, 42, gerente de locação da administradora Lello. "Com isso, o inquilino se tranqüiliza em relação a eventuais aumentos do condomínio, bancados pelo locador."
O não-reajuste é a arma de quem não quer perder um "inquilino de confiança". Foi o que fez a dona-de-casa Marina Giancoli, 55, que aluga, há três anos, um apartamento no Paraíso (zona sul) para o professor Christian Defontaine. "Ele pediu que eu não reajustasse o aluguel, de R$ 1.500, pois não teria como custear condomínio e IPTU, que somam R$ 1.545", justifica. "Aceitei, pois prefiro alguém pagando direitinho."
A psicóloga Judith Schiff, 50, paga R$ 700 por um pacote, em um apartamento de dois quartos no Brooklin (zona oeste), quantia que daria só pra cobrir o aluguel, se fossem observados os valores de mercado. "É de uma amiga e estava fechado. Ela justifica que é melhor ganhar pouco e não arcar com o condomínio."



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