São Paulo, domingo, 11 de abril de 2004

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VILA OLÍMPIA RENASCE

Associações dizem que obras, apesar de bem-intencionadas, não atacam o problema central do bairro

Vida noturna tira o sono dos moradores

DA REDAÇÃO

As obras na Vila Olímpia são bem-intencionadas, mas não valorizam áreas residenciais nem impedem o êxodo de habitantes mais antigos, analisam os representantes das associações de bairro Amavo e Vila Olímpia Viva.
"A iniciativa do Movimento Colméia é boa porque revitaliza parte do bairro. Não ataca, contudo, o problema central, que é o excesso de barulho [causado pelo trânsito e pelas casas noturnas]", diz Eduardo Fidel, 44, da Amavo.
"As obras não vão segurar o morador na região. Não adianta ganhar calçadas bonitas e não conseguir dormir à noite. Não há valorização possível nesse cenário", corrobora Rosângela Giembinsky, 46, da Vila Olímpia Viva.
Apesar das críticas, as associações concordam que "não é papel da ONG controlar o barulho". "Depende da ação das pessoas e da prefeitura. Mas o Psiu [Programa Silêncio Urbano, que fiscaliza a emissão de ruídos em ambientes fechados] é inoperante", diz Fidel.
O coordenador do Psiu, Rosano Maieto, afirma que o programa é "muito operante" na Vila Olímpia. "De todas as denúncias da capital, 11% estão no bairro. É o segundo maior índice, só abaixo do da Sé [no centro, com 13%]."
A média de vistorias na região é de 200/mês, mas, segundo Maieto, a sensação de que o programa é "inoperante" ocorre por causa de amarras legais. "Só podemos fechar um estabelecimento depois de três vistorias com multa."

"Elitismo"
Do ponto de vista urbanístico, o Instituto Pólis levanta outra questão. "Por que investir tanto dinheiro público na Vila Olímpia? A renda média familiar no bairro é quase o triplo da média da cidade. Os investimentos públicos revertem em melhorias para um bairro cujo padrão de vida é elevadíssimo", analisa Paula Santoro.
"Enquanto isso, projetos de interesse do município, como os de habitações de interesse social, são jogados para fora da área valorizada, para a extrema periferia."
A Secretaria do Planejamento e a Emurb (Empresa Municipal de Urbanização) contestam. Segundo os órgãos, o dinheiro usado nas obras foi captado no setor privado, por meio da Operação Urbana Faria Lima, que prevê a troca de mais potencial construtivo por contrapartidas em dinheiro.
A Emurb rechaça a hipótese de que pretende remover pobres de áreas ricas informando que está construindo 480 moradias na Chácara Jóquei Club para abrigar moradores das favelas Real Parque e Jardim Coliseu, no Morumbi, zona oeste de São Paulo.

Bom exemplo
Outros especialistas vêem a aliança entre a ONG Movimento Colméia e o município como um modelo a seguir. "O orçamento da prefeitura está muito comprometido. A parceria vem da necessidade de melhorar o visual e a qualidade de vida na região apesar da capacidade limitada do poder público", avalia o presidente da Asbea (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura), Henrique Cambiaghi.
"Ninguém faz nada de graça, mas existem avanços no humanismo dessas propostas. Enterrar a fiação já é um sinal de maturidade. Mas oferecer parques, lazer e prédios sem muros é o "X" da questão", pondera o presidente do IAB-SP (Instituto dos Arquitetos do Brasil), Paulo Sophia.
Do ponto de vista paisagístico, o plano de plantar árvores como pau-ferro, ipê amarelo, ipê rosa, sibipiruna e aldrago na Vila Olímpia é aprovado pelo especialista Raul Cânovas. "Não conheço bem o projeto, a distância entre as árvores, as larguras das calçadas, a situação das edificações próximas, mas as espécies me parecem adequadas. São nativas e estão mais do que testadas em São Paulo." (RENATO ESSENFELDER)


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