São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2006

Próximo Texto | Índice

Projetos sustentáveis são minoria

Lançamentos com itens para economia de água e energia barateiam condomínio em 15%

André Porto/Folha Imagem
Equipamento para reúso de água que é instalado em condomínios e gera economia do insumo


EDSON VALENTE
DÉBORA FANTINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em lançamentos imobiliários, captadores de energia solar e sistemas de reúso de água de chuva passam a ser incluídos nos projetos e barateiam em até 15% as despesas de condomínio, além de servirem de chamariz de marketing para compradores antenados com a preservação do ambiente.
Mas não adianta tapar o sol com a peneira: iniciativas de sustentabilidade na construção civil brasileira ainda são uma gota de água no oceano.
"Falta consciência do mercado consumidor, do incorporador e do construtor, nessa ordem", afirma Mauricio Linn Bianchi, 45, coordenador do Comitê de Tecnologia e Qualidade do Sinduscon-SP (sindicato de construtora).
Apesar de iniciativas como as do Comasp (Comitê de Meio Ambiente, Segurança e Produtividade do Sinduscon-SP), que promove eventos e palestras, Bianchi admite que mudanças maiores só ocorrerão "a médio e a longo prazos".
Dois outros fatores contribuem para retardar esse processo. De um lado, não existe um padrão de certificação para sustentabilidade que seja especificamente adequado às condições ambientais brasileiras.
De outro, incorporadores argumentam que tornar um empreendimento "verde" pesa no orçamento. "Isso custa, e as margens de lucratividade no país são apertadas", observa o vice-presidente de Tecnologia e Relações de Mercado do Secovi-SP (sindicato da habitação de São Paulo) Alberto Du Plessis Filho, 47.
"Ainda não se assimilou que há benefícios econômicos e ambientais a longo prazo", rebate Giorgio Vissano, 55, diretor da incorporadora Setin, primeira a adotar, em residenciais, sistemas de reúso de água, que consomem 1% do custo total do empreendimento. Vanderley John, professor de engenharia civil da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), aponta que, com a mudança climática do planeta, os custos de energia e de gestão de resíduos devem subir.
Dessa forma, a sustentabilidade passa a ser cada vez mais uma questão econômica, "que inclui o custo da taxa de condomínio", lembra John.

Apelo ao bolso
Segundo especialistas, o reúso de água pode tornar as mensalidades do prédio 15% mais baratas, uma vez que a conta desse insumo costuma ser o segundo maior gasto condominial -só perde para o pagamento de mão-de-obra. A primeira tentativa de vender edifícios sustentáveis teve como apelo a sensibilização sobre danos ao ambiente, mas não obteve o retorno esperado pelos incorporadores.
"Assim, o que se defende hoje na construção civil nos Estados Unidos e na Europa é atrelar como argumento benefícios de redução de desperdício de resíduos e de consumo que se traduzem em economia nas taxas de condomínio. As pessoas são mais sensíveis a isso", diz Vanessa Gomes, professora de engenharia civil, arquitetura e urbanismo da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).


Com DENISE BRITO, Colaboração para a Folha

Próximo Texto: Seus direitos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.