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Porta fechada para o loft
Número de lançamentos despenca em São Paulo; incorporadores isolam área íntima
Renato Stockler/Folha Imagem
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Paulo César "Pepê" preferiu alugar o loft em vez de comprá-lo |
EDSON VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Dez anos depois de entrar no
mercado paulistano e virar um
sucesso de vendas, o loft perde
suas características originais e
a preferência dos investidores.
No entanto um público pequeno, mas cativo, ainda procura
usados para compra ou locação.
Desde 2004, foram só quatro
lançamentos desse tipo na cidade, segundo a Amaral d'Avila
Engenharia de Avaliações. A
queda foi vertiginosa no milênio: em 2000, houve 9 novos
empreendimentos; em 2001, 7;
no biênio 2002-2003, 5.
"As vendas de novos caíram a
partir de 2001", confirma Stefan Neuding, 37, diretor da Stan
Desenvolvimento Imobiliário,
que trouxe o conceito para cá.
Para dar sobrevida aos novos,
arquitetos abrasileiraram o
loft, fechando os quartos para
separá-los da sala e da cozinha.
"Os incorporadores o adaptaram para vender", concorda a
arquiteta Bya Barros. "Os próprios compradores que não se
adequavam ao modelo americano erguiam paredes."
Outros se valem de artifícios
para "isolar" os quartos, como
fez a museóloga Maria Fernanda de Barros, 43, que usou um
"grande móvel" para separar os
ambientes do loft de 90 m2 que
aluga nos Jardins.
Abrasileirado
É verdade que o empreendimento já havia ganhado perfil
próprio aqui. "Em Nova York,
lofts ficam em áreas portuárias,
são galpões deixados por indústrias e reformados como residenciais", explica George
Hochheimer, 39, da Hochheimer Imperatori Arquitetura.
Em São Paulo, surgiram como novos edifícios com unidades padronizadas e fachadas
que imitavam o estilo fabril, localizados em bairros nobres,
como Jardins e Itaim Bibi.
Para o incorporador, o custo
de construção dos lofts é similar ao de um apartamento tradicional. Mas, pelo estilo de um
espaço aberto, com pé-direito
avantajado e grandes janelas,
os compradores pagam "20% a
mais pelo metro quadrado", estima o arquiteto Wilson Marchi, da EGC Arquitetura.
E os investimentos não acabam aí. "Para morar em loft, é
preciso gastar com itens como
cortinas automatizadas", alerta
Barros. "Ele é entregue "no osso", sem acabamento compatível com o preço do imóvel."
Assim, os lofts tornam-se relativamente caros pela área útil
e pelo número de quartos que
oferecem -um ou dois dormitórios em um espaço de 50 m2 a
150 m2. "Aluguei pelo estilo, já
que trabalho com arte, com beleza", raciocina o publicitário
Paulo Augusto César "Pepê",
28, há cinco meses em um loft
de 72 m2 em Pinheiros.
Mas aponta a volatilidade da
moradia. "Hoje compraria o
loft, amanhã não. Para viver
com a namorada, vou preferir
um apartamento tradicional."
Em série
Para complicar a velocidade
das vendas, os lofts fabricados
em série pelos incorporadores
brasileiros perdem um dos atributos mais atrativos desse tipo
de imóvel: a exclusividade.
"No conceito original, o morador tem mais liberdade de
deixar o ambiente com a sua cara. Nos prédios construídos, virou um kit comum demais",
compara Luiz Pompéia, sócio
da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio). "O ocupante enjoa do lugar depois de dois ou três anos."
O loft também passou a sofrer a concorrência de outras
tendências imobiliárias que podem roubar fatias de seu público comprador (solteiros e descasados). São "os quatro-quartos compactos, com 110 m2 ou
120 m2, que podem ter a sala
ampliada e ficar com três suítes", define Marchi.
Eles têm um tempo de uso
maior. "Com o primeiro filho, o
casal jovem tem de se desfazer
do loft", diz o auditor de investimentos Bernd Rieger.
Com MARLENE PERET , colaboração para a
Folha
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