São Paulo, domingo, 16 de julho de 2006

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Porta fechada para o loft

Número de lançamentos despenca em São Paulo; incorporadores isolam área íntima

Renato Stockler/Folha Imagem
Paulo César "Pepê" preferiu alugar o loft em vez de comprá-lo


EDSON VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Dez anos depois de entrar no mercado paulistano e virar um sucesso de vendas, o loft perde suas características originais e a preferência dos investidores. No entanto um público pequeno, mas cativo, ainda procura usados para compra ou locação.
Desde 2004, foram só quatro lançamentos desse tipo na cidade, segundo a Amaral d'Avila Engenharia de Avaliações. A queda foi vertiginosa no milênio: em 2000, houve 9 novos empreendimentos; em 2001, 7; no biênio 2002-2003, 5.
"As vendas de novos caíram a partir de 2001", confirma Stefan Neuding, 37, diretor da Stan Desenvolvimento Imobiliário, que trouxe o conceito para cá.
Para dar sobrevida aos novos, arquitetos abrasileiraram o loft, fechando os quartos para separá-los da sala e da cozinha. "Os incorporadores o adaptaram para vender", concorda a arquiteta Bya Barros. "Os próprios compradores que não se adequavam ao modelo americano erguiam paredes."
Outros se valem de artifícios para "isolar" os quartos, como fez a museóloga Maria Fernanda de Barros, 43, que usou um "grande móvel" para separar os ambientes do loft de 90 m2 que aluga nos Jardins.

Abrasileirado
É verdade que o empreendimento já havia ganhado perfil próprio aqui. "Em Nova York, lofts ficam em áreas portuárias, são galpões deixados por indústrias e reformados como residenciais", explica George Hochheimer, 39, da Hochheimer Imperatori Arquitetura.
Em São Paulo, surgiram como novos edifícios com unidades padronizadas e fachadas que imitavam o estilo fabril, localizados em bairros nobres, como Jardins e Itaim Bibi.
Para o incorporador, o custo de construção dos lofts é similar ao de um apartamento tradicional. Mas, pelo estilo de um espaço aberto, com pé-direito avantajado e grandes janelas, os compradores pagam "20% a mais pelo metro quadrado", estima o arquiteto Wilson Marchi, da EGC Arquitetura.
E os investimentos não acabam aí. "Para morar em loft, é preciso gastar com itens como cortinas automatizadas", alerta Barros. "Ele é entregue "no osso", sem acabamento compatível com o preço do imóvel."
Assim, os lofts tornam-se relativamente caros pela área útil e pelo número de quartos que oferecem -um ou dois dormitórios em um espaço de 50 m2 a 150 m2. "Aluguei pelo estilo, já que trabalho com arte, com beleza", raciocina o publicitário Paulo Augusto César "Pepê", 28, há cinco meses em um loft de 72 m2 em Pinheiros.
Mas aponta a volatilidade da moradia. "Hoje compraria o loft, amanhã não. Para viver com a namorada, vou preferir um apartamento tradicional."

Em série
Para complicar a velocidade das vendas, os lofts fabricados em série pelos incorporadores brasileiros perdem um dos atributos mais atrativos desse tipo de imóvel: a exclusividade.
"No conceito original, o morador tem mais liberdade de deixar o ambiente com a sua cara. Nos prédios construídos, virou um kit comum demais", compara Luiz Pompéia, sócio da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio). "O ocupante enjoa do lugar depois de dois ou três anos."
O loft também passou a sofrer a concorrência de outras tendências imobiliárias que podem roubar fatias de seu público comprador (solteiros e descasados). São "os quatro-quartos compactos, com 110 m2 ou 120 m2, que podem ter a sala ampliada e ficar com três suítes", define Marchi.
Eles têm um tempo de uso maior. "Com o primeiro filho, o casal jovem tem de se desfazer do loft", diz o auditor de investimentos Bernd Rieger.


Com MARLENE PERET , colaboração para a Folha


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