São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2004

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SÃO PAULO DOS EXTREMOS

Edifício Itália e torre do Centro Empresarial Nações Unidas disputam título de mais alto; pesquisa revela crescimento caótico

Apartamento vai de R$ 6.000 a R$ 7 milhões

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
O prédio com mais andares é o edifício Itália (à esq.), no centro, com 165 metros, superado em altura pela torre norte do Centro Empresarial Nações Unidas, que fica na marginal Pinheiros (176 metros)


LUÍS PEREZ
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São Paulo leva às últimas conseqüências a máxima segundo a qual o Brasil é um país de contrastes. A cidade é feita de extremos. Um exemplo: no edifício São Vito, região central, há quem adquira uma moradia por R$ 6.000. Enquanto isso, na zona sul, entregam-se apartamentos de R$ 7 milhões -é o quanto custa o Chateau Margot, empreendimento erguido na Vila Nova Conceição.
"Provavelmente, só o banheiro dessa unidade tenha mais área do que cada apartamento do São Vito", avalia Luiz Paulo Pompéia, 50, diretor da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio). Mas há moradas ainda mais caras. "Uma casa nos Jardins custa até R$ 12 milhões. Isso se levarmos em conta apenas os imóveis residenciais. Grandes prédios comerciais chegam a custar R$ 120 milhões", diz Pompéia.
Pesquisa divulgada na última semana pelo Sinduscon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo) revela que, além de desigual, a cidade se amplia desordenadamente.
"A sensação de que São Paulo cresceu de forma autônoma, a despeito de sua gente, é bastante forte. Ruas seguem tortas o caminho mais fácil dado pelo solo; pedaços de concreto avançam para cima das calçadas, estreitando-as", afirma um trecho do estudo, realizado em parceria com a FGV (Fundação Getulio Vargas).
Exibindo números das últimas três décadas, a pesquisa calcula o IDHab, o Índice de Desenvolvimento Habitacional (veja quadro abaixo) da cidade. Entre 1970 e 2000, esse índice passou de 0,699 para 0,881 (aumento de 26%).
O crescimento desordenado acentuou os contrastes da metrópole. Enquanto um empreendimento como o da Vila Nova Conceição é único na cidade, o crescimento das favelas (são 2.018 hoje, segundo a Secretaria da Habitação) revela precariedade. Com 1.160.590 habitantes, o volume de agrupamentos desse tipo quadruplicou nos últimos 20 anos.
O distrito com maior população favelada é o de Vila Andrade (45,69%), na zona sul, enquanto outros, como Moema, Jardim Paulista, Lapa, Liberdade e Marsilac não possuem nenhuma favela, de acordo com a prefeitura.
Além dos abismos sociais, a distribuição populacional da cidade é marcada por diferenças. Na mesma zona sul é possível encontrar distritos superpopulosos, como o Grajaú (331.978 pessoas), e o menos populoso, o de Marsilac (8.416) -que também é o menos povoado (42 habitantes por km2).
Na outra ponta está a Bela Vista (região central), com a notável cifra de 24.285 pessoas por km2.
Marsilac ainda detém o título de maior distrito, com 200 km2. Já a Sé, onde fica o marco zero da cidade, é o menor -2,1 km2.

Áreas verdes
Diminuto também é o parque Villa-Lobos, em Pinheiros (zona oeste), com 73 hectares (só 35 abertos à visitação). Na outra ponta está o parque da Cantareira, com 7.900 hectares. Um hectare corresponde a 10.000 m2.
Marsilac também vence quando se fala em maior cobertura vegetal -208.806 km2. A Sé, na região central, tem 4,5 km2. Santa Cecília e Brás não têm bolsões vegetais.
A grande polêmica está na disputa pelo título de prédio mais alto, protagonizada pela torre norte do Cenu (Centro Empresarial Nações Unidas) e pelo edifício Itália.
O primeiro tem 176 metros de altura, e o segundo, 165 metros. "Em número de andares, o maior ainda é o Itália", diz a urbanista Raquel Rolnik, 47, secretária nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades. São 46 pavimentos. Também merece menção o edifício Altino Arantes (prédio do Banespa), com 161 metros, edificado em um ponto mais elevado que seus "concorrentes".
Apesar da dificuldade para estabelecer marcos na cidade, os extremos geográficos são mais definidos que os sociais. Por isso, durante a festa dos 450 anos, a celebração deve se limitar aos "contrastes positivos" da capital. "Nos extremos sociais, não há do que se orgulhar", completa Rolnik.


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