São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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Ao lado de boas oportunidades imobiliárias, centro tem metro quadrado e aluguéis mais caros de SP, em média

"Itaquera" e "Jardins" convivem nos preços

Fernando Moraes/Folha Imagem
O ator e cineasta Gustavo Brandão, que afirma ter feito bom negócio com apartamento no Copan


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Se o centro de São Paulo reúne todo tipo de contraste -social e econômico-, o mesmo pode ser dito sobre as características do mercado imobiliário local.
Por um lado, a região perdeu população nos últimos anos e possui 27% de seus domicílios vagos; por outro, tem o metro quadrado de área útil e os aluguéis mais caros da cidade, em média. O valor de uma locação no centro só é inferior ao encontrado em bairros como Perdizes, Pinheiros, Sumaré e Pompéia (-2%), Cerqueira César, Jardins, Morumbi, Itaim Bibi e Moema (-29%). Como explicar os paradoxos?
"O centro tem aluguéis um pouco mais caros por uma questão estratégica", define Sergio Lembi, 46, vice-presidente de locação do Secovi (sindicato de construtoras e imobiliárias). "O que a prefeitura só descobriu agora, a população já sabe faz tempo: a região está próxima de tudo. Morar longe e barato é ilusão", argumenta.
"Os prédios residenciais de altíssima qualidade, com hall social suntuoso e grandes espaços, elevam os preços de locação e de venda", diz Tomás Salles, 53, diretor de novos negócios da Lopes.
Como a distribuição do centro é desigual, abrigando até bairros tidos como nobres, como Higienópolis (no distrito de Consolação), a média do custo imobiliário acaba sendo puxada para cima, aproximando-se de outras áreas de elite fora do centro, como os Jardins.
Mas quem quer gastar pouco também pode recorrer ao centro. Distritos como Pari e República têm opções de valor comparável às da zona periférica de São Paulo -mantendo, porém, o conforto de viver no coração da cidade.

Oferta e espaço
Em termos de infra-estrutura, os moradores não têm do que reclamar. "Há serviços, metrô fácil, hotéis", diz o escultor e ex-diretor da Pinacoteca Emanoel Araujo, 63, vizinho da praça da República.
"É a região mais bem servida de transporte público, de fornecimento de energia, de redes de telefonia", corrobora Eloise Amado, vice-presidente da Asbea.
A vida cultural também é intensa: dos 116 teatros e espaços cênicos da cidade, 53% estão ali. Há raridades arquitetônicas em cada esquina. Rômulo Russi, 37, arquiteto, decorador e professor do Senac, conta que a região é um caldeirão de estilos, fruto das várias influências, da ocasional falta de recursos para terminar algumas obras no estilo original do projeto e também da falta de cultura dos artesãos.
Apesar dos atrativos, há escassez de investidores: só 4% da oferta construtiva da capital entre dezembro de 2001 e novembro de 2003 corresponde à região.
"Tratamos o mercado do centro com certo comedimento", justifica Rogério Santos, 36, diretor de planejamento e marketing da Abyara. "Um dos maiores problemas é a falta de terrenos, embora os que existam tenham preços competitivos. Mas há um potencial enorme de valorização."
Para Gonzalo Fernandez, diretor-superintendente da Fernandez Mera, "o centro é uma boa alternativa para imóveis destinados à classe média, com preços atrativos por metro quadrado".
Para escapar dos preços mais altos, cabe aos moradores identificar oportunidades. O ator e cineasta Gustavo Brandão, 27, que chegou de Santos há sete anos e hoje mora no edifício Copan, em um apartamento de 75 m2, adquiriu o imóvel por R$ 45 mil em 2000, "metade do que vale hoje".
A jornalista Cristina Squinca, 30, por sua vez, mudou-se há dois anos, vinda da Vila Matilde (zona leste). "Vi o centro como uma opção próxima de tudo e barata." Ela encontrou um apartamento de três quartos, com 110 m2, pelo qual paga aluguel de R$ 400. O "achado" fica na rua Martins Fontes, próximo à rua Augusta.
Uns vêm, outros vão. O escritor Walcir Carrasco, autor da novela global "Chocolate com Pimenta", trocou a av. São Luís pelo Morumbi há seis meses. "Sinto falta do centro. Era tudo muito prático, muito gostoso", afirma. Sua motivação foram os cachorros. "Queria que eles vivessem numa casa."
Apesar da tranqüilidade do novo bairro, ele diz sentir saudades da vida social "agitada" do centro. E para quem pensa que os imóveis dali não têm liquidez, Carrasco conta que vendeu seu apartamento de quatro quartos em 15 dias, sem ajuda de imobiliária.

Colaborou Dayanne Mikevis, free-lance para a Folha


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