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"Rede ou missa criam encontros"
DA REPORTAGEM LOCAL
Relacionamentos virtuais são o
motivo que levam especialistas a
se debruçarem sobre o assunto
resultando em estudos e livros.
No ano passado, a escritora Alice Sampaio lançou o livro "Quando o Real Cai na Virtual" (ed. Record), fruto de um estudo de dois
anos sobre namoros via internet.
Também em 2003, Luciene Setta apresentou tese de mestrado
em psicologia social intitulada
"De Onde Tecl@s - Estudos de Sites de Relacionamentos Amorosos" na UERJ. A pesquisadora entrevistou, por e-mail, aproximadamente 500 homens e mulheres
entre 35 e 45 anos cadastrados em
sites de encontros.
"Todos reclamavam que não
haviam encontrado sua alma gêmea", diz. Setta criou o "perfil serial killer amoroso". "É uma pessoa que de segunda a segunda pode conhecer uma pessoa diferente
e não querer nada."
Setta opina que o discurso é
igual para homens e mulheres. Segundo a pesquisadora, esses internautas estão em busca de alguém que não existe.
Na sua opinião, existe uma
idiossincrasia: "O homem vê a foto de uma mulher, troca telefone,
ouve a voz da interlocutora e gosta. Essa mulher, porém, não comentou que tem uma perna mais
curta e que fuma demais".
Quando a relação acontece, diz,
a realidade é então revelada. Segundo Setta, as pessoas estão cada
vez mais solitárias. Ela atribui o
crescimento de sites de relacionamentos amorosos a um maior
distanciamento entre as pessoas.
"A solidão é uma doença da pós-modernidade."
Matilde Melo, doutora em sociologia e professora do Departamento de Sociologia da PUC-SP,
discorda. Para ela, a questão da
solidão urbana não surge nas últimas décadas. "A plenitude da vida moderna se amplia no momento de afirmação do modo de
vida moderno, nos séculos 18 e 19,
e entra em crise no século 20", diz.
Melo cita o filósofo alemão Georg
Simmel, que, no início do século
20, explicita a questão do segredo.
"Em "Metrópole e a Vida Mental",
Simmel traz a idéia da introjeção
do eu."
Na opinião de Melo, os sites de
encontro não são uma forma de
sair do anonimato. "O indivíduo
usa um pseudônimo, mascara
suas informações, esconde-se
mais do que na própria multidão." A socióloga questiona se
um encontro fora da rede é suficiente para explicitar um segredo.
Para Melo, a violência não pode
ser associada à solidão. "A violência é um fato, mas, muito mais do
que ela, existe um fetichismo da
violência e do medo." Melo não
acredita que esses sites sejam um
mecanismo de convívio. "Eventualmente, eles podem propiciar
encontros, assim como a missa ou
a fila do metrô."
(MARIJÔ ZILVETI)
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