Livro apresenta destinos especiais para maníacos por informática, física, astronomia e disciplinas afins

DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Qual é a graça de ir a Palo Alto, na Califórnia, e sair à caça de uma garagem de madeira, com pintura já meio desgastada e da qual não se pode nem chegar perto (só fotografar da rua)? Para um verdadeiro geek, possivelmente, toda a graça. Foi lá a primeira oficina de Bill Hewlett e Dave Packard, dando em 1939 os primeiros passos da Hewlett-Packard.
Apesar de não expor um mísero fiozinho, o casebre de portas trancadas entrou para o livro "The Geek Atlas - 128 Places Where Science and Technology Come Alive" (128 lugares onde ciência e tecnologia ganham vida). Escrito por John Graham-Cumming -geek faixa-preta, criador de programas de informática premiados-, a obra lista lugares tidos como imperdíveis para quem adora física, astronomia, informática e afins. Cumming falou à Folha.

 

FOLHA - Por que criar um atlas geek?
CUMMING - Escrevi o livro para mim. Uma vez, estava trabalhando em Munique e, acidentalmente, descobri o Deutsches Museum, um museu sensacional para fãs de ciência. Pensei: "Deve haver um guia para gente como eu". E não havia.

FOLHA - Durante a apuração do livro, que lugar mais o surpreendeu?
CUMMING - O Experimental Breeder Reactor, em Idaho (EUA). É o primeiro lugar onde se produziu eletricidade por um reator nuclear. Você pode ver as lâmpadas que foram acesas originalmente. Mais legal ainda é que no pátio há dois protótipos de motor nuclear para avião.

FOLHA - E que lugar vale muito, muito a pena visitar?
CUMMING - O Jantar Mantar in Jaipur, Índia. É um observatório dos movimentos do sol, da lua e outros corpos celestiais, construído no século 18 e restaurado no século 20. É enorme e maravilhoso.

FOLHA - E o Brasil? Não somos geek o suficiente para entrar no seu atlas?
CUMMING - Tenho certeza de que são! Se você ou seus leitores tiverem sugestões, entrem no site geekatlas.com. Sei que há muita tecnologia em Recife.

FOLHA - Qual é a diferença entre um nerd e um geek?
CUMMING - Ambos se referem a alguém muito interessado em ciência e tecnologia, mas, para mim, nerd envolve exclusão social. Geek é uma palavra antiga que se referia a artistas de circo que faziam bizarrices, como arrancar a cabeça de um frango vivo nos dentes. Nerd é palavra nova, dos anos 1960.

AMIGOS DA HP
Visualmente, a garagem onde Bill Hewlett e Dave Packard deram os primeiros passos para a criação da Hewlett-Packard, em 1939, em Palo Alto (Califórnia, EUA), pode não ter graça nenhuma. Mas é seu significado que a torna especial. Ao alugarem uma oficina para chamar de sua, os amigos acabaram por criar não só uma empresa gigante a partir de aparelhos simples de áudio (que teve como clientes outros californianos famosos, como o desenhista Walt Disney) mas de implementar a pedra fundamental do que seria depois o chamado Vale do Silício, a região que se tornou o maior polo mundial da alta tecnologia, com empresas como Intel, Google e Apple.

NÃO APERTEM OS CINTOS
Atenção, senhores passageiros, não apertem seus cintos. O avião do projeto Zero G Corporation (corporação da gravidade zero) decolando de Las Vegas, Estados Unidos, despencará no ar para que a tripulação se sinta como se estivesse solta no espaço. Dar as tais cambalhotas no ar custa pouco mais de US$ 4.000 na estação, e vídeos dos participantes inseridos no YouTube mostram que a experiência parece valer a pena. Há, vez ou outra, alguns inconvenientes em viajar nesse Boeing 727 adaptado, que não por acaso foi apelidado de "cometa vômito".

ARTE TECNOLÓGICA
O museu do MIT (Massachusetts Institute of Technology) é um parque de diversões para quem se interessa por tecnologia, claro, mas não só isso. As coleções lá apresentadas são dividas em temas como arquitetura e design, ciência e holografia (acervo considerado o melhor do mundo na área).

ARRASADOR
A zona de exclusão do acidente nuclear na usina de Chernobyl (Ucrânia), que ocorreu em abril de 1986, virou atração pelas mãos de uma agência de turismo. No tour, é possível passear pela área evacuada logo após a tragédia (que deixou 56 mortos imediatamente e fez explodir o número de doenças na população dos arredores) e visitar lugares devastados. A região continua desabitada, mas a propaganda da viagem diz que passar ali por apenas alguns dias não é prejudicial à saúde.

LEONARDISNEY
A última casa de Leonardo da Vinci, em Amboise, França, tem várias de suas pinturas e invenções dos três anos em que morou por lá. A coleção exposta pelo Château du Closlucé -que lhe foi cedido pela monarquia francesa- e seus jardins inclui o Homem Vitruviano e muitos protótipos, como aquele que antecipou o helicóptero. O quarto onde dormia também está aberto a visitantes, assim como seus ateliês de trabalho.