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"Apostar em Wall Street substituiu a inovação como motor da economia"
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM BERKELEY
O fundamentalismo religioso, uma cultura de banalidades e a roleta do dinheiro são barreiras para o desenvolvimento tecnológico nos EUA, segundo Matthew Chapman, um dos fundadores do Science Debate 2008, movimento que busca levar as questões tecnológicas para o cenário político norte-americano. Tataraneto de Charles Darwin (1809-1882), esse jornalista, escritor e diretor de cinema concedeu a seguinte entrevista à Folha.
FOLHA - Qual o maior desafio na área de tecnologia para o novo presidente dos Estados Unidos?
MATTHEW CHAPMAN - A questão mais importante do mundo da tecnologia que o próximo presidente dos EUA terá que enfrentar é ajustar o país, talvez tarde demais, à realidade de que a América não será para sempre a líder mundial em desenvolvimento tecnológico.
FOLHA - Por quê?
CHAPMAN - Há muitas razões. A tecnologia é alimentada pela ciência. O fundamentalismo evangelista, como o que está crescentemente manchando o Brasil, rejeita explicitamente certos aspectos da ciência e implicitamente odeia o conhecimento científico, de fato qualquer atividade intelectual.
Simultaneamente, uma cultura de banalidades e esportes cresceu, e ela também despreza a ciência. Além disso, mais de 50% do crescimento da economia dos EUA desde a Segunda Guerra veio da ciência e da tecnologia. Nos últimos anos, no entanto, parece que apostar em Wall Street substituiu a inovação como motor da economia.
Combine tudo o que foi dito com a crença de que a América é tão excepcional que sempre estará no topo, e o que você tem é uma receita absoluta para um desastre.
FOLHA - O que fazer então?
CHAPMAN - A única maneira para resolver isso é através da humildade. A Dinamarca -não os EUA- é a líder mundial em energia eólica. Isto deveria ter acontecido em Detroit. A Alemanha -não a América- é a líder mundial no desenvolvimento de energia solar. Compare a quantidade de luz solar da Alemanha com a que você encontra no Arizona...
Além de investir muito no problema -não apenas em pesquisa mas também em mudar a percepção do público em relação à ciência-, o próximo presidente americano deve convocar uma conferência da cúpula científica internacional e convidar cientistas e desenvolvedores de tecnologia de todo mundo a se juntarem aos EUA em parcerias internacionalmente inspiradas.
(BR)
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