|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Reportagem de capa
Cliente de cibercafé expõe vida pessoal
RASTROS QUE REVELAM Por descuido ou por falta de informação, usuários de computadores compartilhados em LAN houses deixam para trás endereços de páginas visitadas, senhas de acesso, e-mails, fotos e informações sobre documentos
DA REPORTAGEM LOCAL
Sorria, você está sendo filmado. O aviso presente em qualquer loja deveria ser impresso
em cores chamativas e colado
nos computadores de LAN
houses e de cibercafés.
Compartilhados por um
sem-número de pessoas, essas
máquinas e as informações que
elas armazenam são ótimos
exemplos de como as pessoas
confiam na internet e expõem
suas vidas sem perceber.
A reportagem da Folha visitou oito cibercafés em diferentes regiões da capital paulista
em busca de rastros deixados
pelos usuários. Sem usar nenhum software de espionagem
digital ou um critério para escolher as máquinas, foram encontrados fotos, e-mails, textos, registros de contas e dezenas de senhas para o serviço de
bate-papo instantâneo MSN
Messenger e para a popular rede social Orkut.
Em uma LAN house próxima
a uma agência da Polícia Federal que emite passaportes, foi
possível obter detalhes completos sobre pessoas que esperavam o visto de entrada para
os EUA. Ao acessar o site
www.visto-eua.com.br e digitar de um até nove, a reportagem conseguiu descobrir os
números de passaportes e informações como endereços e
nomes completos.
Com a mesma técnica, só que
digitando letras, foi possível
acessar as páginas de edição de
blogs e de contas de e-mail.
Dessa forma, foram descobertas preferências e detalhes
pessoais de internautas como
Aline de Oliveira.
Ela acessou um site de contos (www.adoravelnoite.com), viu fotos da comunidade
de fãs de vampiros de que participa e checou seus e-mails
profissionais em uma conta
que trazia o domínio da empresa Assolan. Seguindo os rastros
de outros usuários, foi possível
encontrar arquivos como um
trabalho de pós-graduação
chamado "Os Conceitos de Níveis de Pesquisa em Marketing
e suas Abordagens", uma segunda via de conta de luz e históricos de navegação que mostravam qual o provedor de
acesso e o banco nos quais os
usuários tinham contas.
Com esses detalhes em seu
poder, um golpista seria muito
mais convincente ao mandar
mensagens pedindo informações como se fosse uma empresa. O cliente do Unibanco Luciano Augusto e Cláudio Souza,
usuário do site Mercado Livre,
que intermedia transações comerciais e leilões, são dois
exemplos de pessoas que deixaram dados em computadores
de LAN houses.
Contra o sistema
Em todos os casos, o maior
pecado dos usuários foi o descuido. Ao clicar ou esquecer de
desmarcar opções como "Gravar minha senha", seus dados
ficaram armazenados e puderam ser usados sem autorização. Sistemas de sites bancários
e de páginas para leitura de e-mail têm mecanismos para expirar o acesso. Isso quer dizer
que, mesmo com o endereço da
sua página de internet banking
em mãos, o golpista precisará
confirmar todas as senhas novamente. Mesmo assim, o pouco cuidado na hora de escolher
senhas ajuda os intrusos.
Quem usa a mesma senha para todos os serviços acaba deixando pistas em sites sem proteção. Com esse vacilo, o golpista pode usar programas que revelam senhas, transformando
os asteriscos em texto normal
ou então simplesmente clicar
no link "esqueci minha senha"
e pedir para que as informações
sejam enviadas para a conta de
e-mail invadida.
Outro fator de risco são os
serviços casados oferecidos pelos grandes portais. Com a senha do Passport do MSN, por
exemplo, é possível acessar o
MSN Messenger, o Hotmail, o
serviço de blogs Spaces e a página de buscas personalizadas do
portal. O mesmo ocorre com
Google e Yahoo!, que pedem
apenas uma combinação de
usuário e senha para dar acesso
a serviços como agenda de contatos, comparador de preços de
produtos, mensageiro e localizador de endereços.
Ajuda externa
Os donos de cibercafés muitas vezes não contribuem na
proteção dos seus clientes. Nas
lojas visitadas, o navegador Internet Explorer, mais inseguro
do que seus concorrentes, era a
única opção disponível aos
clientes. Pior: em três dos estabelecimentos visitados foi possível baixar e instalar softs de
espionagem, que gravam o que
os usuários digitam.
Os nomes originais encontrados nas LAN
houses foram trocados para preservar a
privacidade dos usuários
Texto Anterior: Eventos on-line/Acontece na internet: Hoje Próximo Texto: Falha da AOL mostrou hábitos dos usuários Índice
|