São Paulo, quarta-feira, 06 de outubro de 2004

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COISA DE CRIANÇA

Professores e pais debatem uso de micro na infância e avaliam possíveis riscos ao desenvolvimento

Iniciação na informática gera indecisão

ANICK JESDANUN
DA ASSOCIATED PRESS

Aumenta cada vez mais a discussão sobre se as crianças devem ou não ser expostas à tecnologia.
Alguns pais e professores não vêem nenhum benefício, e muitos até advertem sobre prejuízos ao desenvolvimento da criança.
Outros afirmam que os computadores ajudam as crianças a se desenvolverem e garantem bons momentos com seus filhos.
Amanda Cunningham, por exemplo, iniciou sua filha de dois anos e meio em computadores com o software Reader Rabbit e sites infantis como Vila Sésamo (www.sesameworkshop.org).
Como qualquer mãe, ela estava orgulhosa por Madeline conseguir comandar o mouse, mesmo sendo tão pequena.
Porém Amanda logo percebeu que Madeline, agora com quatro anos, na verdade, não estava aprendendo nada. "Ela só ficava clicando, arrastando e jogando sempre os mesmos jogos", diz a mãe, que agora não tem nenhuma pressa em colocar seu filho de um ano, Liam, em contato com o computador ou com a internet.
"Não vejo nenhuma vantagem em começar cedo", disse Amanda, que antes era professora e agora cria programas que ensinam leitura em escolas primárias.
Jane M. Healy, autora de "Failure to Connect: How Computers Affect our Children's Mind" (Falha de Conexão: Como os Computadores Afetam a Mente de nossas Crianças), faz críticas à iniciação precoce: "A capacidade mental, nessa idade, é adquirida pela manipulação do mundo tridimensional. Isso ocorre quando a criança controla a sua própria mente, e não quando sua mente é controlada por uma máquina".
Healy também disse que os computadores tiram as crianças de outras atividades que promovem o seu desenvolvimento e que são mais apropriadas para seus cérebros.
Segundo ela, o uso de computadores pode "facilmente tornar-se um hábito, tanto para os pais como para a criança".

Quando começar
Dados de uma pesquisa realizada em 2003 pela Kaiser Family Foundation confirmam que 31% das crianças de três anos ou menos já estão usando computadores nos EUA. Dezesseis por cento conseguem apontar e clicar com um mouse e 11% ligam o computador sem ajuda.
Healy recomenda que as crianças fiquem longe de computadores até os sete anos de idade. Outros especialistas sugerem que três anos é uma boa idade para começar.
A Academia Americana de Pediatria recomenda que, antes dos dois anos de idade, as crianças não sejam expostas à tela do computador. Segundo a entidade, crianças ansiosas podem ficar desanimadas se, por exemplo, conversarem com o monitor de um computador sem obter resposta.
Contudo, alguns pesquisadores, assim como desenvolvedores de sites e softwares destinados a crianças, não vêem nada de errado em expor as crianças precocemente à tecnologia - desde que isso seja feito com moderação.
"As crianças precisam ter um bom equilíbrio em suas vidas e uma mistura de experiências", disse Peter Grunwald, consultor especializado em crianças e tecnologia. Em outras palavras, não force as crianças a entrar em contato com a tecnologia.
"Se usados com bom senso", disse Grunwald, "computadores podem ajudar as crianças a desenvolver a coordenação mão-olho e outras habilidades".


Tradução de Angela Caracik

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