São Paulo, quarta-feira, 11 de março de 2009

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Coinventor defende controle maior da internet

DA REPORTAGEM LOCAL

Fã de Lego e da história do Egito, como conta em seu site (robertcailliau.eu), Robert Cailliau, coinventor da web, concedeu à Folha, por e-mail, a entrevista abaixo . Leia mais em folha.com.br/circuitointegrado. (RC)

 

FOLHA - O que você acha de termos como "web 2.0" e "conteúdo gerado pelo usuário"?
ROBERT CAILLIAU
- Conteúdo gerado pelo usuário era exatamente o que queríamos desde o começo! Os primeiros navegadores também tinham capacidades de edição; o usuário podia modificar páginas tão facilmente quanto lê-las. O que se chama hoje de "blogar" era, de fato, como o conteúdo inicial da web era construído.
Web 2.0 não é de forma alguma uma tecnologia, apenas um conceito psicológico sobre o que a web faz para a comunidade. Isso é bom e interessante. Na verdade, é mais importante do que a tecnologia.

FOLHA - Seu site tem uma seção ao estilo de um blog, mas você afirma não gostar de blogs. Por quê?
CAILLIAU
- Blogs são muito prolixos, e o que está neles normalmente não é bem embasado. Mas creio que eles tenham uma função calmante para pessoas que, de outra maneira, seriam muito frustradas e nervosas. Não tenho hábito de ler blogs, mas imagino que existam alguns que sejam bons.
A imprensa tradicional, embora seja cheia de defeitos, ao menos tem o processo de trabalho de olhar para uma informação, examiná-la e checar sua confiabilidade, o que a leva a uma certa medida de integridade. O problema principal da mídia tradicional de hoje é que ela é movida a publicidade. Mas o mesmo vale para muitos blogs.

FOLHA - Você diz que spam é "a principal chateação em relação ao que a popularidade fez à internet". O que mais o incomoda na rede?
CAILLIAU
- Não muita coisa. De modo geral, sou muito feliz com o resultado da web: ela é muito útil para muitas pessoas e foi muito benéfica para comunidades pequenas ou dispersas.

FOLHA - E o futuro?
CAILLIAU
- Veja quais são os principais problemas da internet: há spam (publicidade); há hackers e não conseguimos encontrá-los (rastreamento); você não pode confiar em algumas informações (identidade); é difícil encontrar um modelo de negócios que gere dinheiro, especialmente para jornais (pagamentos); e a internet é gratuita e, ao mesmo tempo, não é.
Então, por que não partimos para um sistema que elimine a maior parte do problema da publicidade, que tenha identificação positiva de todos os seus usuários, que permita que abusadores sejam rastreados rapidamente e que deixe que os provedores de informação sejam pagos diretamente pelos leitores? Gritos que consigo ouvir: "Isso é perigoso, é contra as liberdades, infringe nossa privacidade..."
Talvez, mas esses mesmos opositores também carregam um telefone GSM com capacidades 3G ou 4G e têm orgulho deles. Mas eles não se opõem a pagar tarifas para cada ligação, para ter um número único e identificável, e realmente querem ser encontrados se houver algum problema.
O sistema GSM tem todas as qualidades que lamentamos não haver na internet. Então vamos transferir a web para a rede GSM, e silenciosamente abandonar a internet.


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