São Paulo, quarta-feira, 13 de junho de 2007

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Reportagem de capa

Criações incomuns tratam até de mecânica quântica

CIENTÍFICAS - Obras se assemelham a experimentos e tentam investigar fenômenos e debater teorias; com recursos variados, até algoritmos geram poesias

DA REPORTAGEM LOCAL

"É superbizarro", avisa Sandro Canavezzi de Abreu ao explicar sua obra "Void: uma estéreo-endoscopia em uma caixa-preta".
Formado em arquitetura, mas com apetite para mecânica quântica, ele quis descobrir que reflexos se formariam quando um espelho côncavo fosse colocado em frente de outro.
"Um espelho côncavo já gera imagens fora dele. Com dois espelhos côncavos, qual seria a natureza dos reflexos?", perguntou Abreu, diretor-geral do Laboratório Aberto de Interatividade para Disseminação do Conhecimento Científico e Tecnológico da Universidade Federal de São Carlos.
Para tirar a prova, já que também não era possível fazer simulações do fenômeno no computador, ele construiu uma esfera, fechada e espelhada, e uma interface para que pudesse observar o que ocorria lá dentro.
"Quando você vai lá para dentro, o que você observa é o seu próprio ato de observação, em uma retroalimentação cibernética, criando uma discussão filosófica", explica o artista. "Compliquei muito?"
Enquanto Abreu investiga a tensão entre os mundos físico e virtual, a artista Suzette Venturelli, do Instituto de Artes da UNB (Universidade de Brasília), explora interações entre humanos e máquinas.
"Pesquiso interfaces naturais, como a voz e o movimento do corpo, como meio de interação com computadores", conta Venturelli. Seu grupo, que reúne pesquisadores de artes visuais, mecatrônica e ciência da computação, também cria games artísticos, chamados de "gameart".

Mais que máquina
Instalações interativas são a área de interesse de Gilbertto Prado, professor do departamento de artes plásticas da ECA- USP. "Acho importante romper com a imagem do computador, visto por muitos como máquina de escritório", diz o artista, que afirma que, às vezes, apenas virando um monitor, o público já deixa de reconhecê-lo como tal.
"Tenho interesse também pelo corpo do interator dentro dos trabalhos e instalações, por fazê-lo andar, se esticar e se posicionar sob novos ângulos e possibilidades de contato", afirma.
Já a artista Sílvia Laurentiz resolveu fazer uma reedição tecnológica da sopa de letrinhas, temperada com poética e algoritmos.
No trabalho on-line "Comunidade de Palavras" (www.e-gallery.com.br/cp), o visitante digita palavras e recebe propostas baseadas no que escreveu.
"Queria tratar do que eu chamei de escrituras, trabalhos com palavras e imagens, partindo dos processos gerados pelo micro e da lógica computacional", diz.
Os trabalhos provam que, no caldeirão de arte e ciência, há muito o que ser entornado.

Links de obras e artistas estão em www.folha.com.br/circuitointegrado


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