São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 2006

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Comunicação

Criador da web não previa surgimento dos portáteis

ENTREVISTA Durante viagem ao Brasil para dar palestras e visitar o laboratório do Google, em Minas Gerais, Cerf diz que deveria ter planejado melhor a internet

RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA

JULIANO BARRETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Normalmente, Vinton Cerf, 62, é creditado como "o pai da internet", mas o pesquisador norte-americano que criou o protocolo IP, que rege a rede mundial, faz por merecer outros apelidos. Poderia ser chamado de juiz, devido à sua atuação à frente do conselho da Icann, em que ajuda a definir os moldes da rede no futuro. O rótulo de vendedor da internet também se adequaria a Cerf, que trabalha como pregador do Google. Em entrevista à Folha, ele detalhou seus planos para o IPv6, sua atuação no Google, e fez previsões para sua "filha".

 

FOLHA - Em quais pontos a internet precisa evoluir?
VINTON CERF -
No início, tudo era feito no ambiente seguro das universidades. Hoje, é preciso reavaliar algumas escolhas. A estrutura do TCP/IP precisa de mais uma camada de informação para trazer maior segurança aos usuários. O ideal seria que o conteúdo fosse codificado durante o envio e o recebimento dos dados.

FOLHA - Teremos mudanças significativas com o IPv6?
CERF -
Os sistemas Windows, Mac e Linux já são capazes de trabalhar com IPv6. No Japão, o padrão é usado em larga escala e, no resto do mundo, ele foi adotado por inúmeras empresas. Espero que, quando ele ficar mais popular, ninguém o perceba. A meta é tornar as coisas melhores sem que os usuários precisem se adaptar.

FOLHA - A falta de endereços para novos sites é um problema real?
CERF -
Não, creio que ainda há espaço para todo mundo. A meta para criar um novo padrão de endereço é melhorar o que já existe. Em um período longo, os endereços poderão se esgotar. Mas há ainda cerca de 40% de endereços possíveis livres.

FOLHA - Depois de tantos anos lidando com internet, como é trabalhar no Google?
CERF -
É revigorante. Ando pelos corredores e vejo jovens lutando para criar coisas novas. Há um entusiasmo muito grande em ver lançamentos quase todas as semanas, e a cultura da empresa facilita a inovação. Mesmo antes de lançar os produtos, eles publicam versões de teste para verificar reações.

FOLHA - Quais seriam os erros cometidos em sua carreira?
CERF -
No planejamento do IP, eu deveria ter incluído um espaço maior para as informações, o que facilitaria muito as coisas hoje. Outro ponto fraco foi a previsão do uso da rede em portáteis, o que pede uma reestruturação. No início dos anos 90, também me envolvi no projeto que planejava cobrar US$ 1 para cada e-mail enviado.


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