|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
reportagem de capa
ANÁLISE
Não há privacidade na internet
BRUCE SCHNEIER
DO SCHNEIER.COM
Se seus dados estiverem on-line, eles não são privados. Talvez eles pareçam privados.
Certamente, só você tem
acesso ao seu e-mail. Na verdade, você e o seu provedor. E o
provedor de seu remetente. E
qualquer provedor das principais conexões de internet que
por acaso acompanhe o percurso desse e-mail do remetente
até você.
Se você lê seu e-mail pessoal
no trabalho, a sua empresa tem
acesso a ele. E, se instalar mecanismos de rastreamento nos
pontos certos, a Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla
em inglês) e qualquer outro órgão de inteligência do governo
norte-americano, também.
É evidente que você poderia
codificar o seu e-mail, mas poucos entre nós fazem isso. A
maioria das pessoas agora usa
webmail. O problema é que,
normalmente, seus dados on-line não estão sob seu controle.
Seu webmail está menos sob
seu domínio do que poderia estar se suas mensagens fossem
baixadas em seu computador.
Se você usa o Salesforce.
com, está contando com essa
empresa para proteger seus dados. Se usa o Google Docs, você
está confiando no Google. Esse
é o motivo pelo qual o Centro
de Informações sobre Privacidade Eletrônica (Epic, na sigla
em inglês) registrou queixa na
FTC (agência reguladora governamental norte-americana): confiamos no mecanismo
de segurança do Google, mas
não sabemos o que ele é.
Isso é uma novidade. Há 20
anos, se alguém quisesse vasculhar a sua correspondência,
teria de invadir a sua casa. Agora, essa pessoa pode simplesmente entrar no seu servidor.
Há dez anos, suas mensagens
de voz eram guardadas em uma
secretária eletrônica no seu escritório; agora, estão em um
computador que pertence a
uma empresa de telefonia.
Suas movimentações financeiras encontram-se em websites remotos, que são protegidos apenas por meio de senhas;
os dados sobre os empréstimos
que você fez são recolhidos, armazenados e vendidos por empresas que você nem sequer sabe que existem.
E mais dados estão sendo gerados. Listas de livros que você
compra, assim como de livros
pelos quais você dá uma passada de olhos, são armazenadas
em computadores das livrarias.
Seu cartão de fidelidade informa ao seu supermercado quais
alimentos você aprecia. O que
era uma moeda anônima colocada em uma cabine de pedágio
transformou-se em pedágio
eletrônico, que registra em que
estrada você esteve e quando.
O que costumava ser uma
conversa cara a cara tornou-se
agora um bate-papo eletrônico,
uma troca de mensagens de
texto por celular ou uma conversa no Facebook.
Quanto a nossa segurança e
privacidade, não temos nenhuma escolha, além de confiar
nessas empresas, mesmo que
elas tenham pouca motivação
para nos proteger. Tanto a
ChoicePoint e a Lexis Nexis
(empresas de internet norte-americanas de banco de dados)
quanto o Bank of America ou a
T-Mobile não assumem os custos relacionados a violações de
privacidade ou a roubos de
identidade digital.
Essa perda de controle sobre
nossos dados tem outros efeitos também. Nossas proteções
contra casos de abuso policial
foram drasticamente diluídas.
Os tribunais têm autorizado
a polícia a investigar nossos dados sem um mandado se esses
dados se encontrarem sob o
domínio de terceiros. Se a polícia quiser ler um e-mail no seu
computador, ela precisa de um
mandado, mas isso não será
preciso se o e-mail for lido a
partir dos arquivos de backup
localizados em seu provedor.
Direitos digitais
Isso não é um problema tecnológico, é um problema jurídico. Os tribunais precisam reconhecer que, na era da informação, privacidade virtual e privacidade física não têm as mesmas fronteiras.
Nós deveríamos ser capazes
de controlar nossos próprios
dados, independentemente de
onde eles estivessem armazenados. Deveríamos ser capazes
de tomar decisões sobre a segurança e a privacidade de nossos
dados e ter respaldo legal no caso de as empresas falharem em
honrar essas promessas.
Tradução de FABIANO FLEURY DE SOUZA CAMPOS
Texto Anterior: Prática reprisa velha batalha entre gerações, diz psicoterapeuta dos EUA Próximo Texto: Frase Índice
|