São Paulo, quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

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reportagem de capa

PCs dividem espaço com salão de beleza

RECIFE Na comunidade Entra a Pulso, existem duas escolas e cinco locais com rede para o acesso pago à internet

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Há dez meses, o microempresário Joaquim Trajano substituiu as velhas revistas para entretenimento de clientes do seu salão de beleza, na favela Entra a Pulso, em Recife, por computadores conectados à internet banda larga.
No início, ainda desconfiado da própria idéia, Trajano instalou apenas três máquinas. E liberava o acesso gratuito à rede, por meia hora, aos clientes que gastassem ao menos R$ 20 no trato dos seus cabelos.
Em poucos meses, o negócio cresceu. Hoje, sete computadores com velocidade de acesso de 600 kbps e monitores de 14 polegadas dividem o espaço de 40 m2 do Salão de Beleza Deywson com as cinco cadeiras forradas de "curvim" preto das cabeleireiras da casa.
As clientes lavam os cabelos ao lado dos internautas, mas ninguém reclama. O convívio é pacífico. Um dos segredos dessa harmonia, afirma o dono do salão, é a proibição dos jogos on-line no local. "Isso só atrai criança e confusão", diz.
Trajano recebe em média 25 pessoas por dia na LAN house e cobra R$ 2 por hora de acesso à internet. Para atender às maiores demandas da casa, ele mantém uma digitadora no local.
Ex-funcionária da Varig, a garota faz e-mails e elabora currículos para os clientes sem prática com computadores. Cobra R$ 1,50 por página digitada e ainda inclui uma foto colorida impressa na capa.
Apesar do sucesso do empreendimento, o faturamento do serviço de internet é ainda complementar. O grosso da renda da casa vem do trabalho das cabeleireiras. "Mesmo assim, a LAN house já tem sua importância no orçamento", diz Trajano. "O lucro das máquinas paga a conta de luz."
O perfil dos clientes é diversificado. O salão e a LAN house não atendem só os moradores da favela. Há também alunos e profissionais liberais de escolas e escritórios da região.

Resistência
A favela Entra a Pulso, uma das maiores da zona sul de Recife, possui 2.600 casas e dez mil moradores. Além da LAN house de Trajano, outras quatro funcionam no local. Na comunidade, há ainda duas escolas, uma creche, 40 restaurantes e 38 cabeleireiros.
A favela está encravada entre o maior shopping da cidade e 720 prédios do bairro nobre de Boa Viagem. Criada há 68 anos, seu nome homenageia a resistência dos primeiros moradores. Em Recife, "a pulso" significa "à força", "na marra".

Nordeste
A região Nordeste é a que tem, proporcionalmente, o maior número de usuários de LAN houses. A última pesquisa TIC Domicílios, de 2006, organizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil com números do IBGE, indica que 52,86% dos internautas da região usam a rede de pontos pagos. No Sul está o outro extremo: são 13,53%, conforme o estudo.


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