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Protesto na rede leva a mudanças reais
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DA ALDEIA ITAPOÃ (BA)
"Internet é melhor que a televisão. Enquanto uma dá autonomia e liberdade, a outra impõe, aliena". É assim que Yakuy
Tupinambá define a tecnologia,
responsável por uma série de
melhorias nas aldeias a que
chegou.
É o caso de um posto de saúde na aldeia Brejo dos Padres,
dos índios pankararu, em Pernambuco. Há tempos o lugar
encontrava-se sem atendimento por falta de profissionais e
infraestrutura. "Medicamentos eram estocados em área imprópria, médicos quando apareciam não podiam atender por
causa da falta de condições do
prédio, acabou ficando abandonado", conta Alex Pankararu.
Foi por meio da internet que
a comunidade conseguiu mudar a situação. "Colocamos várias matérias no site", lembra
Pankararu. "Já havíamos reclamado diversas vezes à Funasa
(Fundação Nacional de Saúde),
mas não recebíamos resposta".
Depois que foram parar na internet texto e imagens denunciando a infraestrutura decadente do lugar, a solução veio.
Na aldeia tupinambá, o uso
da internet tem o respaldo de
uma importante entusiasta, a
cacique Maria Valdelici de
Amaral, ou Jamopoty -seu nome indígena-, que representa
5.000 índios tupinambás de
três aldeias em Ilhéus. Ela diz
que nem se aproxima muito do
computador, mas que está de
olho no que circula na rede.
"Fico atenta a tudo que interesse à comunidade".
Yakuy Tupinambá conta que
teve seu primeiro contato com
a internet há apenas quatro
anos, com a rede Índios Online.
Ela participou das primeiras
oficinas do projeto e, desde então, não largou mais o computador e abraçou o ativismo na
rede. Ela se define hoje uma
"ciberativista".
"Por meio da rede colaboro
para que meu povo tenha uma
vida digna, que seja respeitado". Com a internet, a rede está
avançando. "Falamos com aldeias de todas as regiões do
Brasil e com indígenas da América da Sul, da Europa, dos EUA
e da Nova Zelândia."
A rede Índios Online participou em agosto deste ano do
evento Ciclo Era Digital, promovido pela USP, sobre tecnologia e inclusão social. Ao lado
de nomes como Pierre Lévy,
Yakuy falou sobre as experiências com o mundo digital.
O otimismo de Yakuy é oportuno, afinal, problemas para resolver não faltam. Na aldeia de
Ilhéus, a construção de um núcleo educacional com duas salas de aula só saiu depois de
muita reclamação na internet.
De acordo com Yakuy, tudo esbarra na questão fundiária. A
área em que a aldeia está localizada ainda não é considerada
território indígena. O longo
processo de demarcação de terras ainda está no início e a previsão é de turbulências.
"Fazendeiros e o setor de hotéis são contrários, e o clima está cada vez mais tenso", conta
Yakuy. Há quem acredite que o
novo imbróglio fundiário ganhe proporção semelhante ao
caso da área Raposa/ Serra do
Sol, em Roraima, em que uma
decisão favorável à demarcação
deu início a uma tensa disputa
entre grupos indígenas e agricultores que ocupavam a região.
(CM)
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