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Celulares ajudam a preservar a mitologia
PARA TODAS AS IDADES Tecnologia é aliada na missão de perpetuar a cultura entre os jovens; anciões também se envolvem
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DA ALDEIA ITAPOÃ (BA)
Se antes os mais velhos torciam seus narizes, olhando com
desconfiança a chegada de
computadores à aldeia, hoje até
anciões mais resistentes às mudanças se rendem à tecnologia.
Em tempos de internet e outros apelos tecnológicos, os filmes produzidos em celulares se
tornaram importantes aliados
na difícil missão de preservar a
mitologia, a história e a cultura
indígena entre os mais jovens.
Antenados com o projeto,
adolescentes estão redescobrindo a própria cultura.
Um exemplo é a jovem tupinambá Juliana Guedes. Há um
mês no projeto de vídeos com
celulares, já participou da produção de dois filmes que resgatam histórias míticas e costumes indígenas: a lenda da
many, sobre a história da mandioca e a colheita da piaçava,
principal fonte de renda da aldeia. "Primeiro pesquisamos as
histórias, depois adaptamos
para o vídeo", diz ela.
O movimento de resgate da
cultura já estava em curso antes do projeto com os celulares,
mas a repercussão dos vídeos
entre os indígenas não se compara ao material produzido
apenas com texto e fotos. "O
realismo das imagens [em movimento] seduziu muito mais",
observa Curupaty Abaeté, professor de cultura indígena.
A aldeia Itapoã, em Ilhéus,
tem apenas dois anos, embora
seus moradores afirmem que
antepassados já habitavam a
região. Apesar de recente, a comunidade já é uma referência
por seu engajamento no uso
das novas tecnologias, sempre
orientado à inclusão dos indígenas.
A comunidade, onde vivem
cerca de 500 índios, há pouco
tempo nem sequer tinha reconhecida sua etnia. "Éramos
chamados de caboclos de Olivença", diz a cacique Jamopoty.
Segundo ela, a ação dos índios
internautas foi essencial para o
sucesso da mobilização em torno do processo de reconhecimento da etnia tupinambá.
Parte do trabalho começa nas
oficinas de vídeo, realizadas na
sede do projeto, na aldeia Itapoã. Os emergentes produtores
audiovisuais indígenas não recebem formação profissional: o
processo de aprendizado é autônomo, a partir da experiência
prática. "Quem já sabe replica o
conhecimento em outras aldeias", conta Alex Pankararu,
que já coordenou algumas oficinas de vídeo com celular.
A seleção dos indígenas que
participam do projeto é realizada por uma comissão formada
pelos próprios índios.
As oficinas realizadas duram
em média três dias. Em cada
uma delas, participam aproximadamente 15 índios. Além de
aprenderem as várias etapas do
processo, da produção à finalização, eles também realizam
um filme.
Os índios engajados de
Ilhéus já articulam novos planos. Em 2010, planejam avançar na comunicação colaborativa com o novo projeto Indiomídia, que pretende melhorar a
relação dos índios com a imprensa. A realização, porém,
depende ainda da obtenção de
recursos. Selecionados nos editais de 2007 e 2008 do programa Novos Brasis, os indígenas
já levaram R$ 240 mil para a
execução dos projetos.
(CARLOS MINUANO)
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