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Projeto incentiva resgate da cidadania
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DA ALDEIA ITAPOÃ (BA)
Por trás dos projetos e ações
da rede Índios Online está o argentino Sebastian Gerlic, presidente da ONG Thidewas. Apesar da formação em história,
quando ainda vivia em Buenos
Aires, ele se dedica à área audiovisual desde 1990.
Em 2002, após uma década
durante a qual produziu vários
documentários, ele decidiu
aposentar a filmadora para dedicar-se exclusivamente ao trabalho nas aldeias indígenas.
Leia, abaixo, trechos da entrevista que Gerlic concedeu à
Folha.
(CM)
FOLHA - Como foi seu encontro
com os indígenas e como nasceu o
trabalho com eles?
SEBASTIAN GERLIC - Em abril de
2000, enquanto colhia depoimentos de lideranças indígenas
para um documentário independente durante uma grande
marcha de indígenas que seguia
de Coroa Vermelha, onde Cabral rezou a primeira missa, a
Porto Seguro, fui vitima, junto
com os índios, de um ataque da
Polícia Militar.
Imagina um bando de índios
com cocar sendo atacados por
uma tropa com 300 cavalos, helicópteros, gás lacrimogêneo e
balas de borracha.
As bombas passaram tão perto que prometi a mim mesmo
que, saindo com vida, me dedicaria a trabalhar com os indígenas em algum projeto envolvendo tecnologia e sustentabilidade.
Penso que o sentido da palavra civilização está em xeque.
Afinal, para onde progredimos?
Para a morte? Por isso escolhi
trabalhar com os índios, eles
são exemplos de que podemos
viver socialmente de outra forma, orquestrados com a natureza, sendo parte dela.
FOLHA - Qual é a sua avaliação do
conteúdo produzido pelo projeto
até agora?
GERLIC - Quando começamos o
projeto Índios Online, pensamos que o foco seria o resgate
cultural e a projeção do modo
de vida do índio. Isso de fato foi
feito, mas, ao se apropriarem da
tecnologia, nos surpreenderam
ao usá-la para a cidadania, com
informações que vão desde
orientações simples, de como
tirar documentos diversos e
abrir contas em bancos, até
usos mais complexos, como
acompanhar a destinação de
recursos do governo.
Agora, com o projeto Celulares Indígenas, pensei que a utilização seria mais para denúncias e reivindicações. Mais uma
vez, me enganei: a escolha foi
pela ficção.
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