|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
segurança na internet
Cadetes estudam defesas eletrônicas
JOGOS DE GUERRA >> Forças Armadas dos EUA fazem competição como parte de treinamento contra eventual ataque cibernético
COREY KILGANNON
NOAM COHEN
DO "NEW YORK TIMES"
As Forças Armadas estavam
sob ataque. As linhas de comunicação tinham caído, e a cadeia de comando havia se rompido. Avaliando um abrigo improvisado cuja entrada estava
camuflada por uma rede, o jovem vestido com uniforme de
combate grita para seus companheiros: "Eles estão inundando o servidor de e-mail.
Bloqueie-o. Eu assumo a responsabilidade".
Esses são os jogos de guerra
na academia militar de West
Point. Em abril, uma equipe de
cadetes passou quatro dias batalhando sem parar a fim de estabelecer uma rede computacional e mantê-la em operação
enquanto hackers da Agência
Nacional de Segurança norte-americana (NSA na sigla em inglês), em Maryland, tentavam
se infiltrar nela.
A competição fez parte de
uma prova final de um curso
optativo do último ano. Os cadetes, que eram graduandos em
ciências da computação e tecnologia da informação, competiram contra equipes da Marinha, da Força Aérea, da Guarda
Costeira e da Marinha Mercante. Cada equipe foi julgada segundo a forma como conseguiu
afastar as ameaças.
Defesas cibernéticas
Os jogos de guerra cibernética em West Point são um exemplo da conscientização cada vez
maior a respeito da necessidade de tratar a ameaça de um
ataque por computador tão seriamente quanto a de um ataque realizado por meio de bombardeiros ou tropas.
Dificilmente há alguma unidade das Forças Armadas norte-americanas que não tenha
recebido ordens para analisar o
risco de ataques cibernéticos a
suas missões -e para treinar
meios de contra-ataque.
Se acontecer de os hackers
alcançarem seus objetivos, eles
poderão trocar informações
por meio da rede e prejudicar
as comunicações via internet.
No deserto localizado próximo à cidade de Las Vegas, em
uma área cheia de trailers discretos, um grupo especial de
hackers passa dias e noites vasculhando as enormes redes militares de computador atrás de
qualquer fragilidade que possa
ser explorada.
Esses hackers trabalham para o governo e têm acesso às últimas novidades em softwares
de ataque -alguns deles foram
desenvolvidos por especialistas
em criptologia da NSA. Os
hackers têm um nome oficial
-o 57º Esquadrão Agressor de
Informações (57th IAS, na sigla
em inglês)- e uma sede real, a
Base da Força Área em Nellis.
No ano passado, as Forças
Armadas criaram o seu próprio
espaço a fim de receber especialistas em computação, o
Network Warfare Battalion (algo como Batalhão de Ações de
Guerra na Rede), para o qual
muitos dos cadetes que participam dos jogos de guerra cibernética esperam ser indicados.
Mas o número de postos de trabalho ainda é pequeno.
Carência de cérebros
Atualmente, o Departamento de Defesa forma apenas 80
estudantes por ano em suas escolas de guerra cibernética. Isso fez Robert Gates, secretário
de Defesa norte-americano, reclamar de que o Pentágono está
"desesperadamente carente de
pessoas que tenham habilidades nessa área em todos os setores, e nós devemos tratar de
resolver isso".
Parte dos esforços do Pentágono a fim de aumentar o seu
poderio militar são os jogos de
guerra cibernética disputados
nas academias militares nacionais, entre as quais West Point,
onde jovens cadetes com botas
de combate e cortes de cabelo
bem curtos falam de megabytes
em vez de megatons.
Na final dos jogos de abril,
um grupo tinha de recuperar
informações importantes que
haviam sido parcialmente apagadas de um disco rígido.
Outros cadetes trabalhavam
em grupo, como se estivessem
consertando uma represa com
vazamento, a fim de preservar
o funcionamento geral do sistema enquanto hackers da NSA
atacavam o mecanismo responsável por rodar um banco
de dados fundamental e um
servidor de e-mail.
Eles gritavam vários endereços de internet para que fossem
inspecionados -e normalmente bloqueados- depois de terem recebido a autorização dos
árbitros. E houve um momento
em que Salvatore Messina, o
cadete encarregado de comandar o grupo, teve de agir sem
permissão dos árbitros porque
o ataque havia sido tão intenso
que não permitiu o envio de
uma mensagem de e-mail.
Conhecimento vital
Os cadetes dessa sala são alvos de algumas piadas, mas um
deles, Derek Taylor, disse que
os soldados de hoje sabem que
o domínio da tecnologia pode
ser tão vital quanto a força bruta no momento de salvar vidas.
West Point leva a competição
a sério. Os cadetes que ajudaram a instalar e proteger o sistema operacional precisaram
de uma semana até conseguir
ajustá-lo.
West Point saiu vitoriosa dos
jogos. O que significa que a academia, que ganhou cinco das
últimas nove competições, pode manter o troféu Directors
Cup, exposto atualmente perto
de uma máquina decodificadora Enigma, usada na Segunda
Guerra Mundial pelos alemães.
A decifração do código da
Enigma ajudou os Aliados a
vencerem a guerra, e a máquina
é uma lembrança do papel central que a tecnologia desempenha nas ações militares.
Tradução de
FABIANO FLEURY DE SOUZA CAMPOS
Texto Anterior: Canal aberto - José Antonio Ramalho: Acesse mensageiros e redes sociais em um só programa Próximo Texto: Pirataria de livros cresce e já preocupa grandes editoras Índice
|