São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2008

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ENTREVISTA
LEONARD KLEINROCK

Controlar o lado negro da rede é o grande desafio

Para cientista que participou da gestação da internet, é preciso tornar a grande rede um ambiente mais seguro, combatendo os vírus e a enxurrada de spam

DA REDAÇÃO

Um dos pais da internet, o professor Leonard Kleinrock condena hoje o que chama de lado negro de sua criação: os vírus e a enxurrada de mensagens indesejadas que circulam na rede. De seu laboratório na Universidade da Califórnia em Los Angeles, onde há quase 40 anos foi feita a ligação inicial do que é hoje a internet, ele respondeu por e-mail a perguntas sobre a história e o futuro da tecnologia. (RODOLFO LUCENA) FOLHA - Quais os produtos e os serviços que definiram os últimos 25 anos da computação e da internet?
LEONARD KLEINROCK -
Entre alguns dos eventos principais ocorridos no último quarto de século, podemos citar os seguintes: os PCs, criados no começo da década de 1980; o TCP/IP, que virou o padrão da internet em 1983; a WWW (sigla em inglês para rede mundial de computadores), que se tornou disponível em 1991; a oferta pública inicial da Netscape, de 1995, inicia o boom das pontocom; o padrão Wi-Fi estabelece-se em 1997; o Napster entra em cena em 1999; em 2001, o inglês deixa de ser a língua usada pela maioria dos internautas; em 2005, o Google passa a ser considerado o "queridinho" da internet; o efeito das redes ponto a ponto começa a ser sentido.

FOLHA - Quais foram os principais acontecimentos inesperados?
KLEINROCK -
Houve vários acontecimentos desse tipo, mas destaco os seguintes: a rápida penetração dos PCs; o lado negro da internet, que surgiu na forma de worm em 1988 e na de spam em 1994; o crescimento fenomenal do compartilhamento de arquivos de música; a explosão do YouTube; o interesse despertado pelas redes sociais; as mudanças de estilo de vida que a tecnologia provocou nas gerações mais jovens; a alta incidência de pirataria na rede; e o fato de a minha mãe usar a internet até os 99 anos de idade -ela morreu em agosto passado, dois meses antes de completar cem anos.

FOLHA - O que se esperava que ocorresse, mas não aconteceu?
KLEINROCK -
A confiança e a honestidade no uso da internet deixaram de verificar-se quando o número de usuários atingiu a casa dos milhões; a adoção e a instalação da banda larga nos EUA deram-se de forma muito mais lenta do que o previsto; um grande número de pessoas acreditou na nova economia do boom das pontocom, mas essa bolha estourou em 2000; não ocorreu o desaparecimento dos jornais; ainda não há mecanismos eficientes para se reconhecer a confiabilidade das informações divulgadas na internet; os computadores maciçamente paralelos não conseguiram substituir os computadores de alta performance.

FOLHA - Quais os maiores desafios tecnológicos dos dias de hoje?
KLEINROCK -
É difícil separar os desafios tecnológicos dos desafios sociais e econômicos. Os desafios que identifico são os seguintes: adaptar a tecnologia para atender às necessidades da sociedade, da economia, da educação; um verdadeiro aparelho portátil de comunicação e de geração de imagens (rendering), com vários usos e funções, dotado de conteúdo, aplicativos, serviços e dispositivos convergentes; encontrar caminhos para prorrogar a Lei de Moore [de Gordon Moore, co-fundador da Intel. Grosso modo, diz que, a cada dois anos, a capacidade dos microprocessadores dobra]; disponibilizar o acesso de banda larga a um número maior de pessoas; fornecer em todos os lugares produtos e serviços que consigam determinar sua localização geográfica; criar espaços inteligentes e instalar agentes inteligentes; fazer da internet um ambiente mais seguro.

FOLHA - E especificamente em relação à internet?
KLEINROCK -
De longe, os dois maiores desafios são controlar o lado negro da internet e fornecer ao mundo subdesenvolvido serviços de internet a preços módicos e acesso à internet.

FOLHA - Que tipo de produto pode surgir nos próximos anos?
KLEINROCK -
Espaços inteligentes (com sensores, atuadores, displays, aparelhos de reconhecimento sendo instalados nos ambientes pelos quais circulamos); dispositivos biomédicos implantados; computação quântica (ainda distante); displays de alta resolução flexíveis; tecnologias wireless altamente flexíveis; aparelhos de armazenagem de dados com pequenas dimensões e grande capacidade; dispositivos portáteis integrados; displays montados na lente de óculos.


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